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Ministro da Controladoria-Geral da União defende não punir empresa que revelar casos de corrupção

Rosário comanda o Ministério da Transparência e CGU desde junho de 2017. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Confirmado na terça-feira (20) no cargo de ministro da CGU (Transparência e Controladoria-Geral da União), Wagner Rosário defendeu em entrevista que empresas fiquem totalmente isentas de punição caso sejam as responsáveis pela implementação de programas de integridade, identificação dos focos de corrupção e comunicação ao poder público. Para isso, será necessário uma mudança na Lei Anticorrupção, em vigor desde 2014, o que é defendido pelo ministro.

A lei inovou ao prever punição a pessoas jurídicas, e não somente a pessoas físicas. Rosário propõe que, nos casos em que as empresas sejam as responsáveis por identificar as ilegalidades e comunicá-las ao Estado, as sanções fiquem restritas às pessoas físicas, como funcionários ou sócios que foram corruptos. A CGU é o órgão responsável por investigar irregularidades em contratos de empresas com a União e por declarar a inidoneidade do empreendimento, caso se confirme a culpa, o que impede novos contratos com o poder público.

“A gente tem de fomentar a cultura de integridade. Empresas envolvidas em casos de corrupção e que detectam esses casos por meio de seus programas prévios de integridade, trazendo os casos para os órgãos públicos, devem ter isenção total de sanção. A lei deveria fazer essa previsão. É uma recompensa efetiva para a detecção de casos de corrupção. Isso vai fazer com que as empresas implementem programas efetivos de integridade. Já a pessoa física não está isenta de sanção”, disse o ministro da CGU do presidente Michel Temer e futuro ministro da CGU do presidente eleito, Jair Bolsonaro.

Este tipo de política dependerá de uma mudança na lei, conforme Rosário: “Hoje, independente de a empresa detectar e trazer o caso, sem o Estado ter a mínima noção, a empresa é multada. Nos Estados Unidos, a isenção é total. Isso exige mudança na Lei Anticorrupção. Não temos autorização para retirada da sanção.

Hoje, a empresa que colabora pode ter isenção de até dois terços da multa a ser aplicada, já previstos em lei. Rosário defende isenção total caso a colaboradora detecte e informe os casos de corrupção. Ele foi convidado a permanecer no cargo em um breve encontro pela manhã com Bolsonaro, na Base Aérea em Brasília. Ele é o primeiro ministro de Temer a permanecer no cargo e integrar a equipe do presidente eleito.

Segundo o ministro, Bolsonaro não fez nenhum pedido específico, nem traçou qual diretriz quer para a CGU. Foi a primeira vez que os dois se viram e conversaram, conforme Rosário. O primeiro desenho da formação do novo governo previa que a CGU perderia o status de ministério e iria para o Ministério da Justiça, sob a aba do anunciado ministro Sérgio Moro. Bolsonaro recuou e manteve tanto a pasta quanto o titular do governo Temer.

“Eu não sabia ainda que seria convidado. A equipe dele entrou em contato comigo, pediu que eu comparecesse à Base Aérea hoje às 8h30min. Essa ligação ocorreu na quarta-feira passada, foi feita por um dos assessores dele. Ele praticamente me convidou apenas. Pelo que entendi, ele já tinha um levantamento do trabalho e da minha vida, e o convite foi direto”, afirmou Rosário.

O ministro da CGU tem formação militar, inclusive semelhante à formação de Bolsonaro. Os dois passaram pela Academia Militar das Agulhas Negras e chegaram a capitão. Em 2009, Rosário ingressou na CGU como auditor federal de Finanças e Controle. Está no ministério desde então. A conversa sobre a formação militar foi breve, segundo o ministro:

“Ele só me perguntou de qual arma eu fui. Fui de infantaria, e ele de artilharia. Ele não me disse os motivos que levaram à minha escolha.”

Rosário disse que os dois eixos de atuação da CGU seguem sendo melhoria da gestão e combate à corrupção. No caso de corrupção, o “tripé” é “detecção, sanção e prevenção”, segundo o ministro. Ele já conversou por duas vezes com Moro, uma delas antes do convite para permanecer no cargo. Uma reunião entre os dois está prevista para a semana que vem.

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