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Montadoras no Brasil continuam sob risco de paralisação na produção de carros por falta de chips

A atual falta de chips está relacionada a uma disputa geopolítica entre Holanda e China. (Foto: ABr)

“É um cenário que eu não quero nem pensar”, diz o CEO e presidente da Volkswagen do Brasil, Ciro Possobom, sobre o risco de paralisação da produção de veículos por falta de semicondutores. Seja como for, ele afirma que não gostaria de ter de “tirar itens dos carros”. O executivo se refere à estratégia adotada por várias marcas em 2021 para manter as fábricas operando em meio à primeira crise global de fornecimento de chips.

A atual falta de chips está relacionada a uma disputa geopolítica entre Holanda e China. A queda de braço começou há cerca de um mês, quando o governo holandês assumiu o controle da Nexperia. A fabricante holandesa de semicondutores havia sido comprada em 2017 por US$ 2,75 bilhões por um consórcio formado por companhias estatais chinesas.

O governo holandês, no entanto, assumiu o controle da Nexperia, o que levou a China a impor restrições às exportações de determinados chips. O “confisco” holandês foi justificado como forma de proteger “capacidades intelectuais cruciais” do país e da Europa.

A alegação é de que havia “graves deficiências de governança e ativos” na empresa. Como resultado, o chinês Zhang Xuezheng foi destituído do cargo de CEO da Nexperia por meio de decisões judiciais. A reação chinesa foi suspender a venda para o mundo todo.

Segundo a Anfavea, associação que reúne as fabricantes instaladas no Brasil, o embaixador da China no País, Zhu Qingqiao, informou que as empresas brasileiras poderão solicitar exceção ao embargo por meio da embaixada ou diretamente com o Ministério do Comércio da China. “A China concederá a licença para importação a partir da análise de cada caso”, diz a nota da Anfavea.

Na Europa, a situação se agrava à medida que não há sinal de regularização da oferta desses componentes, ao menos por ora. Na Alemanha, o Grupo Volkswagen, que inclui marcas como Audi, Bentley, Lamborghini e Porsche, informa que só tem garantida a produção até o fim desta semana.

A disputa envolve a suspensão do fornecimento de wafers (base para a produção de chips) da Nexperia para sua fábrica na China, de acordo com a agência Reuters, que teve acesso a uma carta enviada pela companhia a seus clientes.

Conforme a Reuters, o documento, datado de 29 de outubro, é assinado pelo CEO interino da Nexperia, Stefan Tilger. A empresa informa que houve “falha da administração local em cumprir os termos de pagamentos contratuais.”

Na terça-feira da semana passada, representantes da Anfavea, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e do Sindipeças, que reúne as fabricantes de autopeças, participaram de uma reunião, em Brasília, com o vice-presidente e titular do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. De acordo com os metalúrgicos, o encontro “marcou o início das tratativas diplomáticas entre Brasil e China em busca de uma solução que evite a paralisação das montadoras e a perda de empregos no País.”

Na segunda-feira, o presidente da Stellantis para a América do Sul, Herlander Zola, disse que uma das fábricas do grupo no País pode estar prestes a parar a produção, sem informar qual. “É um cenário que estamos acompanhando hora a hora”, diz o executivo.

“Com 1,3 milhão de empregos em jogo em toda a cadeia automotiva, é fundamental que se busque uma solução em um momento já desafiador, marcado por altos juros e desaquecimento da demanda”, diz o presidente da Anfavea, Igor Calvet. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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