O pianista gaúcho Miguel Proença, referência da música clássica brasileira com carreira de destaque no exterior, morreu na sexta-feira (22), aos 86 anos. Ele estava internado no Hospital São Vicente, no Rio de Janeiro, cidade onde vivia, e sofreu falência múltipla de órgãos. O velório acontecerá neste domingo (24).
Nascido no município de Quaraí, no Rio Grande do Sul, Proença apaixonou-se pelo piano ainda na infância ao ouvir o som que vinha de um casarão. Tocou em bares, clubes e festas gaúchas e também nos mais prestigiosos palcos internacionais. Trabalhou com afinco para popularizar a música clássica no país.
Na juventude, estudou piano em Hamburgo e Hannover, na Alemanha. De volta ao Brasil, se estabeleceu no Rio e se concentrou em tocar compositores nacionais, como Alberto Nepomuceno, César Guerra-Peixe, Edino Krieger, Ernesto Nazareth, Oscar Lorenzo Fernández, Radamés Gnattali e Heitor Villa-Lobos. Em 2005, lançou “Piano brasileiro”, uma série de dez CDs que apresentam sua interpretação de autores clássicos.
“Sempre fui um batalhador quando o assunto é divulgar a música brasileira. Certa vez, o pianista Jacques Klein chegou a brincar comigo, dizendo: ‘Miguel, como você gosta de Xangô!’”, disse o pianista à revista Concerto em 2006. Ao longo da carreira, Proença gravou mais de 30 discos e colaborou com músicos renomados, como o violinista italiano Salvatore Accardo e o flautista francês Jean-Pierre Rampal. Também trabalhou com a atriz Bibi Ferreira. Ele também chamava atenção pela semelhança com o ator britânico Anthony Hopkins.
Educador e gestor cultural, dirigiu a Sala Cecília Meireles em 1987 e novamente entre 2017 e 2018. Também comandou a Escola de Música Villa-Lobos e foi secretário municipal de Cultura do Rio entre 1983 e 1988. Nesse período, fundou a Orquestra de Câmara da Cidade do Rio de Janeiro. Proença ainda deu aulas no Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e na Universidade de Música de Karlsruhe, na Alemanha.
Em 2019, no governo Jair Bolsonaro, assumiu a Funarte, mas foi demitido em novembro daquele ano. A exoneração se deu após o pianista ter se unido a outros representantes da classe artística em defesa da atriz Fernanda Montenegro, que havia sido “atacada” pelo dramaturgo Roberto Alvim, então diretor do Centro de Artes Cênicas da instituição. Alvim chamou a atriz de “sórdida” e “mentirosa”.
“Ao sair de cena aos 86 anos, Miguel Proença deixa legado que extrapola a própria obra, abarcando a difusão do piano brasileiro em todo o solo nacional”, escreveu o crítico musical Mauro Ferreira. “Esse trabalho como músico e educador regeu a vida de Miguel Proença, vivida com fidelidade e dedicação ao cultivo da paixão à primeira vista que teve pelo som do piano quando andava com a mãe pelas ruas da cidade natal de Quaraí (RS) em rota que definiu o caminho do artista”.
Proença deixa três filhos: Paulo, Daniel e Laura. (Com informações do jornal O Globo)