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Mudança na meta foi “sensata e pragmática”, avalia diretor do FMI

Segundo Otaviano Canuto, a piora na perspectiva de contração da economia não está sendo provocada pelas medidas de ajuste tomadas pelo governo neste ano, mas pela "luta" em aprová-las. (Foto: Reprodução)

A decisão do governo de reduzir a meta de economia para o pagamento da dívida pública foi “sensata e pragmática”, na avaliação do economista Otaviano Canuto, diretor-executivo do FMI (Fundo Monetário Internacional).

“[A revisão] refletiu o fato de que o ponto de partida, quando a meta foi anunciada, revelou-se a posteriori mais difícil [de se cumprir] do que se esperava, bem como que a desaceleração no crescimento, maior do que a esperada, vem afetando negativamente a arrecadação”, disse.

Canuto, que ocupou os cargos de diretor-executivo, vice-presidente e consultor sênior do Banco Mundial e foi vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento, passou a integrar o conselho do FMI neste mês por indicação de um grupo de 11 países, liderado pelo Brasil.

Mesmo após a definição de uma meta de economia próxima a zero, neste ano, o economista disse não ver motivos para o País perder o grau de investimento (espécie de selo de bom pagador dado pelas agências de risco).

“Tudo leva a crer, se for examinar a trajetória esperada de dívida e a relação entre diversas variáveis que compõem a mecânica da dívida, com a implementação do ajuste, certamente se impede qualquer deterioração que levasse à probabilidade de um evento que justifique o grau especulativo”, avaliou.

O governo acredita que, com a nova meta, a dívida pública bruta alcance 66,4% do PIB (Produto Interno Bruto) no ano que vem, baixando para 66,3% em 2017. O banco Itaú, no entanto, já projeta que a dívida chegue a 68,8% do PIB em 2016 e suba ainda mais no ano seguinte, alcançando 70,3%.

Canuto avalia que, embora seja importante manter o grau de investimento, evitar a perda dessa classificação não pode ser “um fim em si mesmo”.

“[O importante é] evitar que a dinâmica de dívida entre em trajetória de deterioração. É claro que a classificação pelas agências tornaria a dinâmica ainda pior. Mas é importante fazer o ajuste por si mesmo, porque ele é o caminho para recuperar a confiança, reduzir prêmios de risco, para melhorar as condições de investimento pelo próprio setor privado.”

Segundo o diretor-executivo, a piora na perspectiva de contração da economia não está sendo provocada pelas medidas de ajuste tomadas pelo governo neste ano, mas pela “luta” em aprová-las.

“Na medida em que as coisas tomam mais tempo do que poderiam tomar de implementação do ajuste, os agentes privados tendem  assumir uma atitude de esperar para ver”, afirma.

“A correção não está sendo feita porque alguém gosta de ser correto, mas porque a alternativa seria pior, como estava sendo”, fala o economista, lembrando que a economia do governo para o pagamento da dívida já havia diminuído antes da implementação do ajuste e a inflação seguia alta.

Para ele, quanto mais rápido a percepção de “que o País está fazendo a coisa certa” se disseminar, maior a probabilidade de que o “pessimismo” se dissipe.

“Não vejo razão para, no ano que vem, a partir de que se perceba que a correção veio para valer, a confiança se restabeleça”, afirma.

Grécia

Canuto, que participa no FMI das discussões sobre a situação da dívida grega e a possibilidade de o fundo participar de um novo pacote de resgate, fala que, ao analisar o impacto social do ajuste na Grécia, é preciso levar em conta o que aconteceria com o país caso não venha um novo empréstimo. “Nem sempre o desejável em termos de distribuição do ônus é aquele que permite uma resposta mais rápida”, declara.

Nesta quinta-feira (23), o parlamento grego aprovou um segundo pacote de reformas, requisito prévio para que FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia iniciassem negociações para o resgate financeiro de até 86 bilhões de euros.

Para o economista, no debate sobre eventual alívio à dívida grega, necessidade apontada pelo próprio FMI, não se pode desconsiderar o impacto fiscal do lado credor, já que boa parte dos valores foram cedidos por outras nações. “Dinheiro não é criado do nada. Há inclusive países que têm renda per capita menor que o da Grécia”, disse.  (Folhapress)

 

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