O Museu do Louvre, em Paris, manteve as portas fechadas nesta segunda-feira, 16, pegando milhares de visitantes desprevenidos. A paralisação foi decidida pelos próprios funcionários da instituição, como forma de protesto contra o
“overtourism“, invasão de turistas que vem gerando excesso de público, sobrecarga de trabalho e prejudicando as condições já precárias de infraestrutura.
Turistas com ingressos em mãos aguardaram por horas sob a icônica pirâmide de vidro, sem qualquer explicação oficial. A greve começou de forma espontânea durante uma reunião de rotina, quando atendentes, agentes de bilheteria e seguranças decidiram não assumir seus postos.
Segundo o sindicato, o protesto é uma reação a condições de trabalho “insustentáveis”. Com cerca de 30 mil visitantes diários, os funcionários enfrentam um verdadeiro “teste de resistência”, agravado pela escassez de áreas
de descanso, banheiros insuficientes e o calor intenso ampliado pelo efeito estufa da pirâmide de vidro.
A paralisação se soma a uma onda de protestos contra o turismo de massa que vem afetando cidades do sul da Europa, como Maiorca, Veneza e Lisboa. Entre as principais reclamações estão o impacto negativo do excesso de visitantes sobre o cotidiano dos habitantes locais, incluindo o encarecimento dos imóveis e a deterioração da qualidade de vida.
No caso do Louvre, o foco é a superlotação. Em 2024, o museu recebeu 8,7 milhões de visitantes, mais que o dobro de sua capacidade ideal. Só a sala onde está exposta a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, atrai cerca de 20 mil pessoas por dia, em meio a empurrões, celulares e calor sufocante, que tomam o lugar da contemplação. Enquanto isso, obras-primas vizinhas, de artistas como Ticiano e Veronese, são quase ignoradas.
Além disso, um memorando vazado da presidente do Louvre, Laurence des Cars, revelou problemas graves na infraestrutura do museu. Ela alertou que partes do edifício “não são mais estanques”, que as flutuações de temperatura ameaçam obras de arte inestimáveis e que as necessidades básicas dos visitantes estão muito
aquém dos padrões internacionais. Ela afirmou que a visitação virou “uma provação física”.
A paralisação acontece poucos meses após o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciar um ambicioso plano de reformas para o Louvre, orçado em até 800 milhões de euros, que prevê nova entrada, áreas de descanso ampliadas e uma sala exclusiva para a Mona Lisa. Porém, enquanto o governo investe em melhorias estruturais e novos espaços expositivos, os subsídios anuais de operação do museu, concedidos pelo Estado francês, caíram mais de 20% na última década, mesmo com o crescimento no número de visitantes.
É raro o Louvre fechar as portas. Isso só aconteceu em situações excepcionais, como durante a Segunda Guerra Mundial, a pandemia de Covid-19 e em algumas greves. A direção do museu cogita reabrir parcialmente nos próximos dias, com uma “rota limitada de obras-primas”, permitindo o acesso a peças como a Vênus de Milo e a própria Mona Lisa. Na terça-feira, porém, o Louvre seguirá fechado. As informações são da Revista Veja.