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Mutação tem potencial para tratar câncer em diabo-da-tasmânia e humanos

Câncer transmissível dizimou populações de diabo-da-tasmânia na Austrália. (Foto: David Clode/Unsplash)

Desde a década de 1990, um tipo raro de câncer vem ameaçando as populações de diabo-da-tasmânia (Sarcophilus harrisii). O tumor facial do diabo-da-tasmânia (ou DFTD, na sigla em inglês) dizimou esses marsupiais carnívoros na costa sudeste da Austrália, e hoje eles são encontrados apenas na ilha da Tasmânia, que também pertence ao território australiano.

O DFTD é tão letal para esses animais porque é transmissível: células cancerígenas são passadas de um espécime para o outro por meio da mordida. E os diabos-da-tasmânia se atacam com frequência, especialmente para competir por parceiros e comida. A doença se manifesta por meio de tumores na face ou no interior da boca e geralmente leva esses bichos à morte.

Por isso, cientistas do mundo inteiro estudam tratamentos contra a enfermidade. É o caso de pesquisadores da Universidade do Estado de Washington (WSU) e do Centro de Pesquisa para o Câncer Fred Hutchinson, ambos no Estados Unidos, que descobriram um mecanismo que pode ser usado em terapias para o diabo-da-tasmânia e, possivelmente, cânceres humanos.

O estudo, publicado no último dia 1º de agosto no periódico Genetics, apresenta uma mutação genética que consegue reduzir o crescimento do DFTD nesses marsupiais. “Esse gene está presente em cânceres humanos de próstata e cólon”, diz Andrew Storfer, professor da WSU e um dos líderes da pesquisa, em comunicado.

Junto de outros cientistas, Storfer analisou o genoma de casos de DFTD que regrediram espontaneamente — ou seja, o câncer começou a desaparecer sozinho. E a mutação demonstrou estar por trás desse mecanismo — nos testes realizados em laboratório, o gene modificado desacelerou o crescimento do tumor.

Embora os principais beneficiados dessa pesquisa sejam os diabos-da-tasmânia, os autores acreditam que esse possa ser um caminho para novos tratamentos anticâncer em pessoas. Hoje, as terapias mais difundidas focam em remover todos os traços do tumor maligno, com fortes efeitos colaterais sobre os pacientes.

“Se houvesse maneiras de fazer os tumores regredirem sem ter que administrar drogas citotóxicas ou cirurgias deformadoras, seria um grande avanço”, comenta David Hockenbery, biólogo que estuda câncer no Fred Hutchinson, também em nota.

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