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“Não conseguimos mais passar seis meses sem uma crise”, diz o presidente do Banco Central do Brasil

(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, brincou que não é possível passar seis meses sem crise. Ele falava de desafios para a América Latina e mercados emergentes.

“Temos diversidade entre países [na América Latina], mas uma sequência de choques. Fizemos um comentário no Banco Central [do Brasil], que não conseguimos mais passar seis meses sem uma crise”, afirmou em seu discurso durante um painel sobre o estado da economia global e suas implicações para as economias de mercados emergentes no evento 2023 Emerging Markets Forum, em Marrakesh, no Marrocos.

De acordo com Campos Neto, a pandemia de covid-19 “bateu muito forte” na América Latina.

“Cada país fez um programa [fiscal] massivo para combater os efeitos da pandemia”, lembrou. Ele também recordou que muitos países reduziram suas taxas de juros. “No caso do Brasil tivemos a menor taxa de juros da história [na pandemia], de 2% [ao ano]. Estávamos preparados para uma depressão e tivemos uma recessão”, complementou.

O chefe da instituição também disse, de seu ponto de vista, que os bancos centrais “foram rápidos em ver que a inflação não seria temporária como diziam”. Campos repetiu que a desinflação é caracterizada por dois estágios e que o segundo é “mais difícil”.

Depois, o presidente do BC reforçou que não estava focando no Brasil quando citou riscos para economias emergentes. “Não fui otimista ou pessimista”, reiterou.

Ele ressaltou que as dívidas ficaram muito altas após o período de restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus e que o custo desse endividamento é alto para países avançados.

“Meu ponto era apenas que deveríamos começar [a endereçar o problema fiscal], globalmente e especialmente em países avançados, porque acho que o Brasil neste front está melhor, tivemos revisões positivas para o crescimento e o arcabouço fiscal que foi desenhado recentemente, mas meu ponto é que para nós o custo do funding é importante”, ponderou.

“Estamos vendo que o mais provável é que os juros fiquem altos por mais tempo, o que significa um custo alto de dívida. Isso pode ser disfuncional para mercados emergentes, esse era meu ponto”, complementou.

No Brasil, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou setembro com alta de 0,26%, ante 0,23% em agosto, informou o IBGE. A taxa acumulada em 12 meses passou a ser de 5,19%, também acima do resultado até agosto (de 4,61%).

Ainda assim, o número final em setembro surpreendeu o mercado, que esperava variação de até 0,38%. No fim, o IPCA mais baixo do que o esperado reacendeu a avaliação de que a inflação deste ano pode ficar abaixo do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,75% – o que daria à autoridade monetária condições para manter a previsão de dois novos cortes de 0,5 ponto porcentual cada da Selic, até o fim do ano.

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