Com 50 anos de idade, 34 anos na TV e uma coleção de personagens icônicos – como a vilã Laura ‘Cachorrona’ em Celebridade (Globo, 2003) e a cantora brega Chayene em Cheias de Charme (Globo, 2012) – Claudia Abreu é destaque como Ignes, uma das protagonistas de Desalma, série da Globoplay. Na trama, ela volta a trabalhar com Cássia Kis, atriz com quem teve uma parceria inesquecível na antológica Barriga de Aluguel (Globo, 1990).
“Não havia trabalhado com a Cássia novamente, mas sempre acompanhei o trabalho dela. Sempre que a gente vive algo forte com alguém – seja na vida ou na ficção – fica eterno, vira uma cumplicidade para sempre. Quando reencontrava a Cássia e a gente se olhava, havia a nossa cumplicidade, algo que nunca ficaria pelo caminho ou seria apagado pelo tempo. Acho significativo que nós duas tenhamos tido quatro filhos, cada”, afirma Claudia, mãe de Maria, 19 anos, Felipa, 13, José Joaquim, 10, e Pedro Henrique, 9, todos do casamento com o diretor José Henrique Fonseca. “A relação que tenho com eles, às vezes, acaba ficando na frente de muitas outras coisas. Minha paixão por eles faz com que meus filhos sempre sejam meu assunto central”, diz ela para Quem.
No bate-papo, a atriz cita um ponto em comum com Ignes, sua personagem em Desalma. “Quando você precisa defender um filho, você fica mesmo meio animal. A Ignes vira um bicho. É uma mulher de sentimentos fortes, mas não consegue expandi-los e isso vai se acumulando. Ela tem esse lado de defender a cria.”
O que considera o ponto alto da série?
Os personagens. Sem uma boa história não importa o gênero – seja comédia, seja suspense, seja terror. A Ana Paula [Maia, autora] é premiada, tem um frescor da literatura, não tem nenhum vício da teledramaturgia. Ao ler, você vê que ela é muito livre na escrita dela.
O que foi mais desafiador neste seu trabalho em Desalma?
O mais difícil na Ignes é ter a interpretação mais contida, com rigor do que realmente precisa. A orientação do Manga era justamente esse comedimento para todo elenco. É um trabalho de economia, de colocar a energia no lugar errado. Tenho uma cena em que falo um texto imenso para a psiquiatra e falo sem gesticular, parada. O gesto desperdiça energia. Estamos contando uma história sombria, em um lugar estranho e é tão importante essa atmosfera de concentração. É importante descobrir e escavar cada personagem, para que você mesma consiga se surpreender ao interpretar. No conjunto, o grande desafio da equipe era dar unidade. Tinha que ter uma unidade para que não ficasse uma parte paulista, outra parte carioca de Ipanema, outra gaúcha. Conseguimos.
Algo em comum com a personagem?
Quando você precisa defender um filho, você fica mesmo meio animal. A Ignes vira um bicho. Ela é uma mulher de sentimentos fortes, mas não consegue expandi-los e isso vai se acumulando. Ela tem esse lado de defender a cria. Eu sempre penso se a gente deveria falar sobre o trabalho e as subjetividades dos personagens na hora da divulgação ou deixar como surpresa absoluta ao telespectador. Às vezes, acho que a gente entrega muito. É tão bom quando a surpresa vem.
E a questão dos mistérios da história?
Não tenho religião, mas tenho espiritualidade. Acredito no metafísico, acredito no mistério, mas não escolhi um dogma. A gente não sabe exatamente o que é, mas há alguma coisa por trás. É muito arrogante do ser humano negar o mistério, negar o metafísico. A gente não tem nem instrumentos para entender a própria cabeça e o funcionamento de tudo, por que negar uma outra realidade? Sou aberta a todas as coisas, acho que tudo é possível. Não gosto de dogmas impostos, principalmente politicamente.
