Na Região Nordeste, cerca de 10 milhões de famílias são beneficiadas pelo Bolsa Família. Por mês, o programa representa uma injeção de recursos de R$ 6,4 bilhões para os Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
No caso das aposentadorias, a antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS deve colocar mais R$ 15,76 bilhões nas mãos das famílias nordestinas.
“Grande parte da população que recebe tudo isso está na zona rural. São pessoas que vão movimentar o mercado local, e isso amplifica muito a cadeia de negócios que se gera a partir dessa movimentação”, afirma Flávio Ataliba, coordenador do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Nordeste do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre).
“Políticas de transferências têm limite tanto do ponto de vista fiscal como de estímulo à participação no mercado de trabalho. O que precisamos é de ganhos de produtividade a partir do crescimento do empreendedorismo, e isso é mais necessário ainda no Nordeste”, acrescenta.
Depois de dois anos, o Nordeste vai superar o Sul e voltará a ocupar o segundo lugar como centro de consumo do Brasil, ficando atrás apenas do Sudeste. Em valores, as famílias dos Estados nordestinos vão gastar R$ 1,515 trilhão em 2025.
O Nordeste deverá responder por 18,59% do consumo brasileiro neste ano, enquanto Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná devem representar, juntos, uma fatia de 18,51%, revela o levantamento anual da consultoria IPC Maps. No ano passado, a participação dessas regiões foi de 18,06% e 18,57%, respectivamente.
Ao todo, as famílias brasileiras deverão movimentar R$ 8,151 trilhões, uma alta de 3,01% na comparação com 2024. Pontualmente, a inversão de posição entre Nordeste e Sul é explicada por uma combinação de fatores.
De um lado, os estragos provocados pelas enchentes no Rio Grande do Sul afetaram a economia local. De outro, os Estados nordestinos refletem uma série de benefícios para a região, como o bolsa família, o aumento do salário mínimo e investimentos bilionários em energia renovável. Junta-se a isso outra força importante para o Nordeste: o turismo, que ajuda a movimentar a economia local.
“O Nordeste ultrapassou a região Sul em 2008, mas perdeu essa posição por causa da pandemia”, afirma Marcos Pazzini, sócio da IPC Marketing. “Agora, por causa das enchentes, pela volta do fluxo de turistas à sua normalidade e com o real desvalorizado, o Nordeste voltou a crescer e retornou para a segunda posição.”
A desvalorização do real em relação ao dólar − a moeda brasileira chegou a ser cotada a R$ 6,30 no fim do ano passado − encareceu as viagens internacionais para brasileiros, mas deixou o turismo local mais barato para estrangeiros.
Nos primeiros quatro meses deste ano, as estatísticas do Ministério do Turismo mostram que os aeroportos internacionais do Nordeste receberam 159.149 estrangeiros. É um contingente maior do que o apurado nos primeiros quatro meses do ano passado, quando 105.358 turistas desembarcaram no País.
“O Nordeste tem vários segmentos formais e informais voltados para o turismo”, diz Michelle Silva, integrante do conselho de administração da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) Nacional. “A perspectiva é de um crescimento ao longo de todo este ano.”
Historicamente, o Nordeste sempre foi a região brasileira que mais se beneficiou do turismo. Em 2023, segundo o último anuário da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), o faturamento da região foi de R$ 4,56 bilhões, o equivalente a 39,6% do total do Brasil.
“Basicamente, todas as capitais do Nordeste têm no turismo um vetor econômico. E é possível identificar locais na região em que, eventualmente, o turismo é a única ou a principal fonte de renda e geração de emprego para uma determinada comunidade”, afirma Marina Figueiredo, presidente executiva da Braztoa.
“A atividade do turismo é muito diversa na geração de emprego. Quando um hotel começa a funcionar, ele vai oferecer oportunidade de emprego para camareira, garçom, chefe de cozinha, gerente. Todos os perfis da sociedade acabam sendo contemplados”, acrescenta.
Como o restante do Brasil, a região observou uma melhora do mercado de trabalho. A taxa de desemprego média recuou de 11,2% para 9,4% de 2023 para 2024 e alcançou o patamar mais baixo desde 2014. No ano passado, a renda do trabalho subiu 10,3% − um ritmo mais acelerado do que a do conjunto do País (7,6%). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.