As empresas de apostas esportivas e jogos online faturaram R$ 17,4 bilhões no Brasil de janeiro a junho deste ano, segundo dados da Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA) do Ministério da Fazenda.
O primeiro levantamento no País com informações sobre o mercado regulado de apostas, obtido pela Folha de S.Paulo, mostra o tamanho do mercado das chamadas bets e de jogos de azar digitais, popularizados como jogos do tigrinho.
Ao C-Level Entrevista, videocast semanal da Folha, o secretário Regis Dudena afirmou que 17,7 milhões de brasileiros apostam no País, sendo a maioria homens (71,1%) e cerca da metade está na faixa etária de até 30 anos. A média de gasto por apostador ativo é de cerca de R$ 983 por semestre (cerca de R$ 164 por mês).
Dudena aponta que houve um crescimento descontrolado desses jogos por falta de iniciativa de governos anteriores e que, com a recente regulação do mercado, “o Estado brasileiro tomou o controle de volta deste setor”.
“O descontrole que houve de 2019 a 2022 é muito responsável por problemas que vivenciamos hoje. Nos cabe agora limpar a casa. A gente precisa resolver essa bagunça.”
* A secretaria levantou números que dão conta do tamanho do mercado de apostas no Brasil. O que esses números mostram?
Uma das grandes mensagens deste momento é que o Estado brasileiro tomou o controle de volta desse setor. Hoje, nós sabemos exatamente quantos apostadores brasileiros apostam nessas empresas autorizadas pelo governo federal. Nós estamos falando de 17 milhões de pessoas.
Hoje nós sabemos qual que é o famoso GGR (Gross Gaming Revenue), que é a diferença entre o que é apostado e os prêmios pagos, ou seja, qual é o resultado bruto daquilo que fica com as casas de apostas. E nós estamos falando num valor semestral de R$ 17 bilhões, uma média de R$ 2,9 bilhões por mês.
O apostador entra, faz um depósito e, a partir desse depósito, ele aposta. A média de retorno, ou daquilo que você ganha quando aposta, é em torno de 90% a 93%. Você perde a diferença disso (7%).
O que a população tem que entender quando se engaja em uma atividade de aposta? Você vai perder o dinheiro. A tendência é que você perca o dinheiro.
* No ano passado, um relatório do Banco Central mobilizou o Congresso e o governo ao dizer que brasileiros gastavam cerca de R$ 20 bilhões por mês em casas de apostas. Esse valor é diferente do levantado pela Fazenda. O que explica essa diferença?
A principal explicação é a diferença entre depósito, saque e efetivo gasto. O próprio estudo (do Banco Central) tem uma nota de rodapé que fala em 15% de retenção. Ele deixa claro que esses R$ 20 bilhões que ele está observando não são R$ 20 bilhões de gastos. Existe uma diferença entre o fluxo financeiro de entrada e saída do mesmo dinheiro do apostador que colocou aqueles R$ 100 e ficou fazendo apostas, ganhando e perdendo, e o dinheiro efetivo que saiu do bolso dele.
* É a primeira vez, então, que os dados estão sendo expostos.
A gente recebe diariamente reportes de todas as casas de apostas, em que se fala quem são os apostadores, quanto eles depositaram, quanto apostaram, quanto ganharam. Isso gera uma quantidade bastante expressiva de dados.
Hoje, as apostas no Brasil têm duas modalidades. Uma modalidade de aposta esportiva, que é aquela em eventos esportivos de natureza real, e as apostas em jogos online que têm um gerador randômico de números, letras e cores que faz com que o apostador aposte nesses jogos.
* Que certeza vocês têm de que o valor informado pelas casas de apostas é aquele que foi mesmo movimentado?
Temos diversos controles. É óbvio que a gente vai poder sempre incrementar esses controles. Em um primeiro momento, são reportes que eles fazem, só que a gente monitora a atividade dessas casas de aposta. Aquilo que elas dizem que ganham, aquilo que elas recolhem (de tributos) e eventualmente a gente dialoga também com a Receita na parte tributária.
* Já houve alguma sanção nesse sentido nos primeiros meses de operação?
Nós tivemos algumas sanções pontuais, principalmente em relação à oferta de apostas que não eram devidas. Elas ainda não foram divulgadas porque elas estão em período de recurso, então a gente tem que esperar os recursos administrativos chegarem ao seu final, mas todas as punições, todas as penalidades aplicadas serão divulgadas.
* O que os números da Fazenda dizem sobre o perfil dos apostadores?
Cerca de 71% dos apostadores no Brasil hoje são declarados homens, o restante se declaram mulheres. Cerca de metade dos apostadores estão na faixa etária até 30 anos. (Com informações da Folha de S.Paulo)