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Noivado, casamento e divórcio: a curta trajetória de Regina Duarte na secretaria da Cultura

Atriz deixa o cargo em Brasília após desgastes envolvendo nomeações. (Foto: Carolina Antunes/PR)

Regina Duarte anunciou a saída do cargo de secretária especial de Cultura no governo Bolsonaro nessa quarta-feira (20). Em vídeo publicado nas redes sociais do presidente, em que aparece ao lado da atriz, ela afirma que vai assumir a Cinemateca, em São Paulo.

“A família está querendo minha proximidade, eu estou sentindo muita falta dos meus netos, dos meus filhos”, justificou.

O anúncio vem depois de uma série de desencontros: a atriz fez nomeações consideradas inadequadas ao perfil ideológico do governo e foi criticada pelo presidente pelos períodos que passou longe de Brasília.

Proximidade 

Conhecida por sua carreira na televisão, Regina Duarte também começou a chamar atenção nas últimas décadas por seu posicionamento político de direita.

Sua propaganda contra Lula na campanha de 2002 em que dizia “tenho medo” é lembrada até hoje. Ela também apoiou o impeachment de Dilma Rousseff em 2016.

Nas eleições de 2018, a atriz começou a demonstrar simpatia à figura de Bolsonaro, citando-o diretamente.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em 2018, ela disse que Bolsonaro era um “cara doce”.

“Quando conheci o Bolsonaro pessoalmente, encontrei um cara doce, um homem dos anos 1950, como meu pai, e que faz brincadeiras homofóbicas, mas é da boca pra fora, um jeito masculino que vem desde Monteiro Lobato, que chamava o brasileiro de preguiçoso e que dizia que lugar de negro é na cozinha”, disse.

Na mesma entrevista, ela afirmou que a imagem de Bolsonaro como uma pessoa “truculenta” foi construída por seus opositores.

Em 2019, primeiro ano de governo do presidente, a atriz postou várias imagens no Instagram mostrando não só Bolsonaro, mas também o então ministro da Justiça Sérgio Moro; e o ministro da Economia, Paulo Guedes; frases defendendo a Operação Lava-Jato e ações do governo na segurança, economia e combate à corrupção; além de convocações para manifestações pró-governo.

Noivado e casamento

Regina Duarte foi nomeada para a secretaria de Cultura em março, após a queda do ex-secretário, Roberto Alvim, que havia feito diversas referências ao nazismo em um discurso – repetindo, inclusive, frases de Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda na Alemanha nazista.

Embora se dissesse conservadora e de direita muito tempo antes de entrar para o governo, a atriz foi acusada por alguns bolsonaristas nas redes sociais de ser uma “espiã comunista” – eles não aprovavam seus laços com a Rede Globo (com a qual teve contrato por anos) e sua proximidade com a classe artística.

Seu início não foi imediato – antes de assumir oficialmente como secretária especial de Cultura, passou por um período de “testes” que o presidente chamou de “noivado” com o governo.

Durante o “noivado”, Regina esteve acompanhada em Brasília do filho mais velho, André Duarte Franco, que se declarava bolsonarista convicto nas redes sociais e inclusive acompanhou a mãe em reuniões no Planalto.

Na posse, Regina fez um discurso que falou em “carta branca” do governo para escolher equipe e diálogo.

“Meu propósito aqui é de pacificação, diálogo permanente com o setor cultural, Estados e municípios, Parlamento e com os órgãos de controle”, afirmou.

Divórcio

Apesar da promessa de carta branca, a secretária teve desgastes com o governo por nomeações que fez, com nomes que foram vistos com desconfiança por não se alinharem ideologicamente ao governo.

A dificuldade em exonerar certos nomes também gerou atritos. Um deles foi o do maestro Flávio Mantovani, que presidia a Funarte, e que havia feito declarações ligando o rock ao aborto e ao satanismo.

Ele foi exonerado no mesmo dia em que Regina tomou posse, mas foi reconduzido ao cargo no último dia 5 de maio, por decreto publicado do Diário Oficial. Sua renomeação, no entanto, não durou 24 horas: no mesmo dia, ele foi novamente demitido.

Outro nome foi do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, cujos posicionamentos como o de que “não existe racismo no Brasil” revoltaram o movimento negro. A Fundação Palmares tem como objetivo promover a cultura negra no país.

Chamou atenção a ausência da secretária em reunião onde Bolsonaro rebateu acusações feitas pelo ex-ministro Sérgio Moro (e onde estava todo o primeiro escalão do governo).

Logo após o “iô-iô” com Mantovani gerar rumores de saída da secretária do governo, Bolsonaro convidou Regina para um encontro.

A reunião, que deu certa sobrevida à permanência da atriz na secretaria, teve também a presença do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, ao qual a secretaria de cultura é subordinada – a pasta perdeu o status de ministério no governo Bolsonaro.

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