Nos últimos cinco anos, as mulheres têm se tornado clientes relevantes do varejo esportivo, antes dominado por homens. Elas não só estão comprando para consumo próprio, como também estão dispostas a gastar mais: nas cestas os produtos mais básicos e baratos (chamados de produtos de entrada) estão dando lugar a peças de maior valor, confortáveis e que proporcionam uso híbrido no esporte e no cotidiano, tanto em vestuário quanto em calçados.
A observação é da gerente executiva de projetos da Centauro, Natalia Matsukuma, que já teve passagens por outras empresas do setor como Nike e Puma. Na varejista esportiva desde 2019, ela presenciou essa mudança, causada, na sua avaliação, pela maior inserção das mulheres nas corridas de rua e em práticas de bem-estar como yoga e pilates.
Segundo dados da Centauro, a participação de novas clientes mulheres comparada a de novos clientes do gênero masculino aumentou 5 pontos porcentuais entre 2022 e 2025. O movimento também se refletiu em ganhos financeiros. O aumento do ticket médio das clientes mulheres entre 2022 e 2025 (até outubro) foi de 20,42%, na categoria de calçados, e de 17,62% na de vestuário. Leia a seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo.
– A sra. vem percebendo mudanças no comportamento ou no perfil do consumidor da Centauro desde 2019? “No geral, falando de categoria, percebemos um movimento bem forte (vindo) da corrida. Estamos vivendo o grande segundo boom da corrida. O primeiro aconteceu logo após a pandemia, mas ele vinha de um público mais profissional, mais velho e com muito desejo de alta performance. Aí, caminhamos para um lugar de mais prática do esporte, inclusive com mulheres e um público mais jovem sendo inseridos no universo da corrida. Essa nova geração está entrando na corrida com um olhar um pouco diferente, olhando para o bem-estar, buscando mais produtos de rodagem. Na parte de vestuário, tínhamos antes (um interesse por) produtos muito técnicos ou vestuário muito barato, e agora já vamos para um olhar de lifestyle, um produto híbrido, com o qual eu possa correr e também estar em um café da manhã. No passado, a Centauro já foi muito reconhecida por ser muito voltada ao homem, a venda era concentrada no masculino. De lá para cá, vemos um cenário diferente. Vemos uma mulher comprando para o seu marido, para o seu filho, mas também comprando para ela.”
– Essa ‘concentração no masculino’ tinha relação com as lojas estarem centradas em materiais para futebol ou o esporte, em si, era algo que era realmente do consumidor masculino? “Não. Vejo que (essa situação era vivida pela) indústria como um todo, e não uma particularidade da Centauro. No pré-pandemia, a indústria se voltava muito para o público masculino, era um olhar muito frio para a mulher. Não tinham construções, do ponto de vista de haver portfólio voltado para ela. Então, não necessariamente era uma questão da Centauro, era uma questão da indústria, e no pós-pandemia acordamos para esse movimento.”
– Mas, antes disso, já havia um movimento voltado para as roupas fitness, contando com a participação das mulheres ali? “(Com a) mulher, tanto para a indústria quanto para o varejo, sempre colhemos muitos resultados de preço de entrada. Ela sempre se posicionou dentro do nosso negócio nesse lugar. Depois da pandemia, começamos a ver essa consumidora também querendo um tênis de placa (de carbono), também querendo um vestuário de alta performance. Teve um movimento de a mulher realmente se enxergar nesse lugar. Antes, ela era a pessoa que acompanhava o marido na academia e que, portanto, não necessitava de um superinvestimento. Ela não se colocava em um lugar de competição entre gêneros, e sim ‘vou comprar o melhor para o meu marido, para o meu filho e, para mim, o básico está OK’. A corrida é um lugar de destaque porque se tornou, inclusive, o lugar fashion. Hoje nas corridas, vemos penteados, óculos, macaquinho, meia, lacinho, enfim. Em segundo, estão os esportes de bem-estar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
