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A nova condenação de Lula dificulta a aliança com partidos do “centrão”

Deputado é acusado de ter recebido propina de empreiteira, segundo Operação Lava Jato. (Foto: Ag. Câmara)

A nova derrota jurídica sofrida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticamente sepultou a possibilidade de partidos do chamado “centrão” apoiarem uma eventual candidatura do petista ao Palácio do Planalto. Integrantes do PR e do PP, que flertavam com Lula, afirmam que, após os três desembargadores do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) confirmarem a condenação do ex-presidente, uma aliança com o PT para a eleição nacional fica praticamente inviabilizada.

“A candidatura de Lula perde consistência. Uma coisa é você ser candidato com toda a segurança possível, outra é se lançar em meio a tanta insegurança”, avalia o líder do PR na Câmara, deputado José Rocha (BA). Segundo o deputado, o PR vai agora analisar os quadros que irão se colocar na disputa para decidir quem apoiar na corrida presidencial. Uma das possibilidades é apoiar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Nesta semana, integrantes da cúpula do DEM se reuniram com o ex-deputado Valdemar Costa Neto (SP), que, na prática, comanda o partido.

No PP, a confirmação da condenação do ex-presidente deve suplantar de vez os setores do partido, especialmente do Nordeste, que apoiavam uma reaproximação com o PT. Para o líder do partido na Câmara, deputado Arthur Lira (AL), o resultado do julgamento da última quarta-feira modificou o quadro eleitoral, mas ainda é preciso esperar para ver para onde vão migrar os votos que iriam para o petista.

Apesar do discurso de afastamento de Lula adotado pela cúpula dos dois partidos, alguns parlamentares afirmam que é cedo para fazer uma avaliação do cenário. Para o deputado Dudu da Fonte (PP-PE), o desempenho do ex-presidente nas pesquisas pode garantir a ele alianças e competitividade nas eleições. “Acredito que ele ficará na frente nas pesquisas, o que fará com que os aliados não o abandonem”, disse.

PR e PP fazem parte hoje da base aliada do governo do presidente Michel Temer. A avaliação desses e de outros partidos desse grupo é que uma eventual saída de Lula da disputa beneficiará um candidato de centro, que pode ser representado tanto por Maia quanto pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). O nome do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é visto com mais resistência dentro da própria base.

Bolsonaro

Para o deputado federal e pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSC-RJ), a decisão de do TRF-4 contra Lula foi “um tiro de .50 na corrupção”. Segundo o cientista político Cláudio Couto, porém, Bolsonaro deveria pensar melhor antes de celebrar a saída do líder petista da disputa eleitoral.

Sem Lula, argumenta Couto, o militar reformado tende a perder o apoio daqueles que o viam como o “voto útil” contra o petista. “Olha, me interessa o que vai mudar para o Brasil. O que nós queremos é o PT fora de combate. E não é querer por querer. É porque eles fizeram besteira demais. E tão grave quanto a corrupção é a questão ideológica. Acho que o Brasil ganha com o Lula fora de combate”, disse Bolsonaro em um vídeo publicado nas redes sociais.

“Se o Lula sai, Bolsonaro perde essa função de anti-Lula”, diz Couto, que é coordenador do mestrado em gestão de políticas públicas da Fundação Getúlio Vargas. “Pode ser que Bolsonaro e seus seguidores tenham torcido para que isto acontecesse. Mas se eles tivessem feito o cálculo político talvez vissem que não seria positivo para eles”, diz ele.

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