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Novas gravações preocupam a associação da Polícia Federal

Associação preocupa-se com descrédito da delação. (Foto: AE)

Carlos Eduardo Sobral, da Associação Nacional de Delegados de Polícia Federal, tem duas preocupações em relação aos novos áudios de Joesley: eles confirmaram a participação de Marcello Miller e podem levar ao descrédito do instrumento da delação premiada.

“Não se deve colocar a culpa na delação”, defende.

Fachin consultou Cármen Lúcia

O relator Edson Fachin submeteu à presidente do STF, Cármen Lúcia, a decisão sobre levantar ou não o sigilo dos novos áudios dos delatores da JBS. Apesar de citada, a ministra concordou com Fachin que o interesse público se sobrepunha à eventual necessidade de preservar a intimidade das pessoas mencionadas. Em relação aos áudios anteriores, recuperados pela Polícia Federal, Fachin deve levar ao pleno da Corte a decisão sobre se devem ser destruídos para preservar o sigilo da relação advogado-cliente. Pessoas que têm acesso às investigações dizem que aquelas conversas não são tão explícitas quanto as reveladas agora.

Reputação de Janot

Às 19 horas da última segunda-feira (4), Rodrigo Janot anunciou o que um de seus aliados definiu como uma “bela punhalada” em seu mandato: a possível revisão no acordo de delação dos executivos da J&F. O acordo é considerado o feito mais ousado de Janot, que resultou na denúncia contra o presidente Michel Temer. A entrega espontânea de áudios, pela JBS, que fazem com que o acordo seja reexaminado, e a reação da Procuradoria têm como objetivo manter a delação em pé, na tentativa de diminuir os danos do episódio para Joesley Batista e para a reputação de Janot.

O procurador-geral, avesso a entrevistas, chamou a imprensa às pressas e garantiu que “agiu de boa-fé” e por isso, agora, à luz de novos fatos, “presta esclarecimentos” à sociedade.

“Ludibriados” pelos delatores, sugeriu Janot, procuradores da República firmaram acordo que pode ser rompido ao se descobrir uma gravação na qual um dos seus homens de confiança é apontado como o sujeito “afinado” com Joesley. A suspeita é de que o ex-procurador Marcelo Miller tenha orientado a JBS no acordo quando ainda pertencia à instituição.

O novo áudio, disse Janot, foi entregue pela própria defesa da JBS na última quinta-feira (31), às 19h30, a poucas horas do fim do prazo dado pela Procuradoria para a empresa complementar a própria delação. Em uma força-tarefa no fim de semana, os áudios foram analisados pelo grupo de trabalho de Janot na Lava Jato.

A conversa de Joesley com Ricardo Saud foi encontrada pela procuradora Maria Clara Barros Noleto no domingo, 3, e anunciada pelo procurador-geral publicamente no dia seguinte. Antes disso, Janot fez uma longa reunião com sua equipe de comunicação e avisou pessoalmente o ministro Edson Fachin, quem chancelou em abril o acordo feito com Joesley, e a presidente do Supremo, Cármen Lúcia.

Ao se apressar em anunciar a sua própria derrota, Janot buscava dominar a narrativa do problema. Pelas explicações, a PGR foi pega de surpresa por uma traição e está disposta a resolver o problema. A boa-fé, no caso, garante a validade do acordo. O contrato assinado pelos irmãos Batista tem cláusula específica que prevê que, em caso de rescisão do acordo em razão da omissão de fatos criminosos, pelos delatores, as provas produzidas continuam válidas. (AE)

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