Na tarde deste domingo (21), novos chats privados entre Deltan Dallagnol e os procuradores da Operação Lava Jato foram divulgados pelo The Intercept Brasil. Nas mensagens, Dallagnol afirma que considera que Flávio Bolsonaro mantinha esquema de corrupção em seu gabinete quando foi deputado estadual pelo Rio de Janeiro. Além disso, o procurador da Lava Jato também afirmou que não via indícios de que Sergio Moro tenha tomado qualquer medida para investigar o esquema de funcionários fantasma por qual Flávio Bolsonaro é acusado. Vale lembrar que o caso voltou aos noticiários nesta segunda (15), quando Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu as investigações que envolviam o filho de Jair Bolsonaro.
De acordo com o Intercept Brasil, mo dia 8 de dezembro de 2018, depois da eleição de Jair Bolsonaro e da nomeação de Sergio Moro como ministro da Justiça, Dallagnol postou em um grupo de chat composto por procuradores da Lava Jato um link para uma reportagem sobre um depósito de R$ 24 mil feito por Queiroz numa conta em nome da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Nas mensagens, o procurador da Lava Jato se mostrou preocupado com a forma que Moro conduziria o caso, sugerindo que o ex-juiz protegeria Flávio, tanto por limites impostos pelo presidente quanto pela intenção de Moro de ser indicado ao STF.
Dallagnol manifestou sérias preocupações com a forma que o ministro da Justiça conduziria o caso, sugerindo que o ex-juiz poderia ser leniente com Flávio, seja por limites impostos pelo presidente ou pela intenção de Moro de não pôr em risco sua indicação ao Supremo: “É óbvio o q aconteceu… E agora, José?”, digitou o procurador. “Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?”, escreveu. Dallagnol completou, sobre o presidente: “Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupcao se o filho dele vai sentir a pauta na pele?”
Dallagnol – 08:52:01 – É óbvio o q aconteceu… E agora, José?
Dallagnol – 08:53:37 – Moro deve aguardar a apuração e ver quem será implicado. Filho certamente. O problema é: o pai vai deixar? Ou pior, e se o pai estiver implicado, o que pode indicar o rolo dos empréstimos?
Dallagnol – 08:54:21 – Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?
Dallagnol – 08:58:11 – Agora, Bolso terá algum interesse em aparelhar a PGR, embora o Flávio tenha foro no TJRJ. Última saída seria dar um ministério e blindar ele na PGR. Pra isso, teria que achar um colega bem trampa
Dallagnol – 09:05:54 – Agora, o quanto ele vai bancar a pauta Moro Anticorrupcao se o filho dele vai sentir a pauta na pele?
Em conversa privado com Roberson Pozzobon, também procurador da operação, Deltan deu a entender que estava relutante em fazer uma condenação mais severa de Flávio por temer as possíveis consequências políticas de desagradar o presidente, da mesma forma que, no chat em grupo, falou que Moro faroa.
Ainda segundo o Intercept, um mês e meio depois, no mesmo grupo, no dia 21 de janeiro de 2019, Dallagnol contou que havia sido convidado pelo Fantástico, da Rede Globo, para uma entrevista sobre foro privilegiado. Apesar de estar ansioso para falar sobre o deputado federal Paulo Pimenta, do PT – que a Globo indicou que seria o foco da matéria -, estava receoso de ser perguntado sobre as tentativas de Flávio Bolsonaro de usar o mesmo foro para barrar investigações. Por fim, Dallagnol decidiu recusar o convite da emissora.
Dallagnol – 16:44:44 – Pessoal, temos um pedido de entrevsita do fantástico sobre foro privilegiado. O caso central é bom, envolvendo o Paulo Pimenta, se isso for verdade rs. O risco é eles decidirem no fim focar no Flávio Bolsonaro eusarem nossas falas nesse outro contexto. De um modo ou de outro, o que temos pra falar é a mesma coisa. Além disso, algumas informações que buscam não temos (são da PGR). A questão é se é conveniente darmos entrevista para essa reportagem ou não. Eu não vejo que tenhamos nada a ganhar porque a questão do foro já tá definida. Diferente de uma matéria sobre prisão em segunda instância…