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Nunca no Brasil as mulheres tiveram tão poucos filhos como agora

Os dados do levantamento indicam um adiamento crescente da maternidade. (Foto: Freepik)

A taxa de fecundidade no Brasil caiu para 1,6 filho por mulher, abaixo dos 1,9 registrados em 2010, de acordo com dados do Censo divulgados nessa sexta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com a queda, as brasileiras passaram a ter menos filhos do que americanas e francesas, que possuem taxa de fecundidade de 1,7 e 1,8, respectivamente.

Na região Norte, que historicamente lidera os índices de fecundidade, a taxa também recuou no mesmo período, de 2,47 para 1,89. O contraste com décadas passadas é ainda mais expressivo: em 1960, o país tinha uma média de 6,28 filhos por mulher, chegando a 8,56 na região Norte.

Além da redução no número de filhos, os dados do IBGE indicam um adiamento crescente da maternidade. O maior percentual de nascimentos, que em 2010 se concentrava entre jovens de 20 a 24 anos, passou em 2022 para mulheres de 25 a 29 anos. Entre as adolescentes de 15 a 19 anos, a taxa de fecundidade caiu de 15,6% para 11,4%.

Observou-se também um aumento nas taxas específicas de fecundidade em todas as faixas etárias acima dos 30 anos. O grupo de mulheres de 30 a 34 anos, por exemplo, passou de 18,7% para 21% do total de nascimentos. Também houve crescimento nas faixas de 35 a 39 anos (de 10,7% para 13,7%) e de 40 a 44 anos (de 3,5% para 5,2%).

A faixa dos 45 aos 49 anos — última idade fértil analisada pelo IBGE — também houve um pequeno crescimento: passou de 0,7% para 1,1% no mesmo período, evidenciando um padrão cada vez mais tardio para o início da vida reprodutiva.

Essa mudança também aparece na idade média da fecundidade, que passou de 26,3 anos em 2000 para 28,1 anos em 2022. A elevação ocorreu em todas as regiões. O Sul e o Sudeste registraram as maiores médias (28,7 anos), enquanto o Centro-Oeste teve o maior avanço proporcional, subindo de 25,2 para 27,9 anos. No Norte e Nordeste, regiões onde tradicionalmente a maternidade é mais precoce, também houve crescimento: a idade média alcançou 27 e 27,7 anos, respectivamente.

De acordo com o doutor em demografia José Eustáquio Alves, pesquisador aposentado do IBGE, a queda na taxa de fecundidade é positiva. Além dos ganhos em saúde pública, a redução no número de filhos tem impacto direto no empoderamento das mulheres, especialmente no acesso à educação e à renda. Um dos aspectos mais positivos apontados pelo especialista é a queda expressiva da fecundidade entre adolescentes no Brasil, que historicamente apresentava uma das maiores taxas do mundo nessa faixa etária.

“O Brasil tinha uma das maiores taxas entre adolescentes, e boa parte dessas gestações eram indesejadas, muitas resultantes de violência sexual ou da falta de acesso a políticas públicas de saúde. A redução desses números é um avanço importante”, afirma.

“Outro ponto é que com muitos filhos, é mais difícil continuar os estudos, ingressar ou permanecer no mercado de trabalho. A queda da fecundidade favorece o aumento da escolaridade e da renda das mulheres. Isso também beneficia as crianças, pois com menos filhos, as famílias conseguem investir melhor na educação, e crianças com mais escolaridade tendem a contribuir mais com a sociedade e com a economia”, explica.

A doutoranda em comunicação e cultura pela UFRJ Júlia Amin, que pesquisa maternidade, pondera, por outro lado, que a redução da taxa de fecundidade também se acentua devido à ausência de políticas que tragam segurança para as mulheres e famílias optarem por mais filhos.

“Incertezas socioeconômicas como a ausência de creches e escolas públicas de qualidade, licença-maternidade e paternidade estendida e remunerada, também contribuem para a queda da taxa de fecundidade”, diz. Com informações do jornal O Globo.

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