O agronegócio não precisa das terras da Amazônia para expandir sua produção no País. A afirmação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, é feita em um momento em que o Brasil volta a protagonizar números recordes de desmatamento na maior floresta tropical do planeta, deixando a comunidade internacional em situação de alerta e expondo o País ao risco de perder investimentos.
O agro, diz Tereza, tem crescido nas áreas já desmatadas e a Amazônia, com seu clima e terras diferentes das demais regiões, não é atraente, além de não contar com infraestrutura logística. “Não precisamos da Amazônia. E eu sou uma defensora intransigente de se zerar o desmatamento ilegal”, disse, em entrevista jornal O Estado de S. Paulo.
A ministra diz que parte das críticas ao País está relacionada aos interesses comerciais e de concorrência, afirma que os bancos brasileiros deviam reduzir seus juros ao setor, em vez de criticar políticas ambientais do governo, e que o agro, em meio à pandemia, tem ampliado exportações e consumo interno.
Leia abaixo alguns trechos da entrevista:
– Nos últimos dias, a China paralisou a importação de carne de alguns frigoríficos brasileiros. O que ocorreu? “Estamos respondendo a todos os questionamentos dos chineses. Não houve nada de errado com os frigoríficos, que estão testando todos os seus funcionários em relação à covid-19. Nós tomamos aqui todas as precauções com as pessoas. Estamos conversando e explicando isso. Muitas vezes, acontece de os chineses não entenderem nossa legislação, não compreenderem como um Ministério Público pode, eventualmente, ser contra uma portaria do governo, por exemplo. Acham que é tudo a mesma coisa. Enfim, estamos trabalhando juntos, com o ministério da Saúde, Agricultura e Economia, para informar corretamente. Foi um mal entendido em relação a alguns trabalhadores que já estavam afastados, por causa da covid-19. O fechamento de uma planta, embora seja algo pontual, acaba mexendo com uma cadeia inteira que gira em torno daquela operação. Mexe com o pequeno produtor, o mercado de ração, de mão-de-obra, transporte, embalagem. Então, é algo que precisa ser rapidamente resolvido. Eles estão usando todas as barreiras de proteção e estão fazendo isso no mundo todo. Temos plena consciência de nossos protocolos, que são técnicos e rígidos. O que havendo, neste momento, são reflexos do aumento de demanda. O Brasil está sendo mais procurado, para ser supridor de mais alimentos do que já é.”
– O avanço do agronegócio sobre a Amazônia é uma realidade. A senhora acha que a agricultura precisa, de fato, entrar na Amazônia para aumentar sua produção? “Não precisa. Hoje, com as necessidades da população no Brasil e em todo o mundo, não precisa. E não se trata só disso. A Amazônia não tem logística para tirar produção. Você tem que fazer estrada, aumentar porto, ferrovia. A região não possui essa infraestrutura. Além disso, nossa tecnologia da agricultura foi feita para regiões como o cerrado, para o Sul e Sudeste. E essa tecnologia muda conforma a região. Plantar soja no sul de Campo Grande (MS) não tem nada a ver com a forma de plantar soja no norte do mesmo Estado. As variedades são outras, a luminosidade. Isso é tecnologia e não pode ser aplicada na Amazônia.”
– A comunidade internacional tem criticado duramente o aumento nos índices de desmatamento da Amazônia. O governo não deveria incentivar a produção fora dessa região? “Isso já é feito. E, hoje, a gente não precisa nem incentivar. Se você olhar o nosso desenvolvimento nesses últimos anos na pecuária, por exemplo, vai ver que o setor teve um aumento enorme de produtividade, mas não de área utilizada, e assim acontece com toda a agricultura. Nos últimos 40 anos, nossa área plantada cresceu 32%, enquanto a produtividade aumentou 385%. E isso se deve à pesquisa, à nossa tecnologia. O que a gente precisa ter é equilíbrio. As políticas públicas do ministério vão no sentido de incentivar a agropecuária moderna e sustentável, sem abertura de novas áreas de plantio. E isso tem ocorrido. A Embrapa mostra que apenas 12,8% do bioma Amazônia está ocupado pela agropecuária. Preservar o meio ambiente é uma condição fundamental para o agricultor e ele está mais consciente disso. Antes, você ia para o campo e as pessoas desconheciam o assunto. Hoje, todos sabem da relevância disso, o produtor rural, o pequeno, ele sabe que, se fizer algo errado, isso terá consequências.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.