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O Brasil deve ter um aumento de 42% nos casos de câncer na próxima década

Na última década, salto foi de 28% entre 2010 e 2020. (Foto: EBC)

Nos próximos dez anos, o Brasil pode ter um aumento de 42% nos casos de câncer. Em toda a América Latina, a previsão chega a 67% de crescimento da doença. Os dados agravam um contexto que já incluía a falta de acesso a diagnóstico precoce e a tratamento adequado, que diminuem as chances de sobrevida de pacientes e aumentam os custos em saúde.

O número é bem maior do que o registrado na última década, de acordo com dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer) divulgados pela SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia). Em 2010, foram somados 489.270 casos de câncer no país. Já para 2020, são esperados 625 mil registros em todo o ano, um salto de quase 28%. O câncer é a segunda maior causa de mortes por doença de brasileiros, depois das cardiovasculares.

A estimativa de novos casos e os desafios fazem parte de um estudo inédito da Varian Medical Systems, empresa de softwares e equipamentos para tratamentos oncológicos, em parceria com a The Economist Intelligence Unit (EIU).

A pesquisa revela o desafio do sistema público de saúde brasileiro e da América Latina no geral em atender a uma demanda crescente, mesmo antes da Covid-19. O impacto da pandemia, com interrupção de exames e consultas, foi mais um entrave no combate a uma doença que responde por cerca de 650 mil novos casos no Brasil por ano.

Segundo o levantamento da Varian, o Brasil tem a maior capacidade para otimizar recursos de atendimento e pesquisa entre os países da região, mas tropeça em transformar esse ambiente em uma assistência oncológica eficiente. Os gastos com saúde são extensos, e a população encara disparidades no acesso a diagnóstico e tratamentos, principalmente aos mais recentes ou de alto custo.

“O envelhecimento da população vai naturalmente levar ao aumento da incidência de câncer. É uma questão estatística, e não há como reduzir esse impacto. O que pode ser feito é diminuir a taxa de mortalidade do câncer, que tem prevalência maior na população com mais de 60 anos. A pesquisa traz esse senso de urgência para um problema que já é grave e vai ficar ainda mais”, explica Humberto Izidoro, presidente da Varian para a América Latina.

Para Clarissa Mathias, presidente da SBOC, a projeção de 42% está dentro do esperado, mas “assusta”. Ela destaca, ainda, que a preocupação maior é que o dado ainda pode sofrer um aumento em função da pandemia de coronavírus: “O grande problema também é a pandemia, pois provavelmente vamos ter um aumento ainda maior nos casos de câncer, em função do crescimento no consumo de cigarro, de bebida alcóolica e nos índices de obesidade”, alerta.

O Brasil tem uma taxa de mortalidade de câncer de 91 a cada 100 mil habitantes, mais alta que a média da América Latina, de 87, evidencia o estudo. O país também se destaca em incidência e mortalidade de câncer como de mama e próstata, entre os mais comuns no país, na comparação com países desenvolvidos.

“A incidência de câncer no Brasil, e na América Latina como um todo, chega a ser o dobro da dos Estados Unidos, inclusive em casos de câncer muito mais tratáveis hoje, com toda a tecnologia que existe”, diz Izidoro. Isso tem a ver com a falta de acesso ao tratamento e com a nossa habilidade de diagnosticar precocemente. O paciente demora muito para fazer exames de imagem. Casos de biópsia são emblemáticos no sistema público de saúde. Pacientes com um tumor local viram metastáticos por conta da lentidão de diagnóstico e tratamento.

Enquanto 60% das ocorrências de câncer de mama nos EUA, por exemplo, são diagnosticadas nos estágios iniciais, no Brasil esse índice cai para 20%, e no México, para 10%, mostra o levantamento.

“As pessoas estão morrendo, quando poderiam sobreviver “, diz Izidoro. “O câncer de mama que é descoberto no estágio inicial tem chance de sobrevida de mais de 90%. Mas muitas vezes os casos chegam no sistema de saúde já tarde, diminuindo a chance de sucesso e aumentando o custo de tratamento”.

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