O Brasil registrou até o momento mais de 10 mil mortos por complicações do novo coronavírus (Sars-Cov-2) desde que o primeiro caso no país foi relatado em março, segundo o levantamento das secretarias estaduais de Saúde da sexta-feira (8) e balanço do Ministério da Saúde neste sábado (9).
A Covid-19 matou 10.627 pessoas no Brasil, o que coloca o país como o sexto com mais mortes por causa da doença, atrás dos Estados Unidos, Reino Unido, Itália, Espanha e França. A primeira morte oficial pelo novo coronavírus no Brasil aconteceu há 53 dias. Desde registro inicial, o país chegou a mais de 155 mil infectados.
Assim como o Brasil, outros países viram o número de casos e mortes aumentar e integram o grupo com mais de 10 mil vítimas da Covid-19. Em todos eles, medidas foram tomadas para conter o avanço da doença, embora posturas contra o isolamento social tenham sido comuns:
– Com quarentena menos rígida no início da epidemia, a Itália viu o seu número de mortos crescer rapidamente e chegou a se tornar o epicentro da doença na Europa.
– O Reino Unido demorou para apresentar uma resposta eficaz à doença e apostou em formas alternativas de combate, como a imunização de rebanho e se tornou o país com mais mortes no continente.
-Os EUA demoraram a implementar ações de isolamento e, quando foi feita uma testagem em massa, o país apareceu como o novo epicentro da doença no mundo.
– Quando a Espanha se tornou um dos países mais afetados pela Covid-19, o governo espanhol decidiu decretar emergência e tornar o isolamento obrigatório.
-Previsto para durar inicialmente apenas 15 dias, o governo da França estendeu o isolamento para no mínimo 6 semanas por conta do avanço da doença no país.
Pesquisadores que acompanham o surto de coronavírus pelo mundo fazem a ressalva de que o índice de casos confirmados nos países depende da política de testes adotada em cada um deles – e também da quantidade de equipamentos à disposição.
Além disso, os especialistas reforçam que cada país tem um cenário específico de combate à pandemia e que medidas de contenção têm que levar em conta as especificidades locais.
O Brasil completou mais de 10 mil mortes enquanto começou a ter medidas mais severas de isolamento em zonas que já vivenciam uma sobrecarga no sistema de saúde, como cidades do Norte e do Nordeste do país.
Na terça-feira (5) o governo do Pará decretou lockdown na capital, Belém, e em outras grandes cidades do estado. Na Região Nordeste, Maranhão e Ceará também decretaram medidas similares. Em São Paulo, estado onde houve a primeira confirmação de Covid-19 no país, as medidas de distanciamento social e o fechamento de comércios não essenciais foram prorrogadas.
O Ministério da Saúde afirma que não há como saber exatamente quantas pessoas foram infectadas pelo novo coronavírus no país. Sem a testagem em massa, boa parte dos portadores assintomáticos ou com sintomas leves não chega a ser testada e a prioridade é para os pacientes graves.
Subnotificação e governança
O professor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, Domingos Alves, disse ao G1 que, no Brasil, a subnotificação dificulta o acompanhamento da epidemia e o desenvolvimento de políticas de combate e proteção.
“O governo tem que começar a liberar dados mais fidedignos, mais estruturados para que se possa fazer o acompanhamento da epidemia” – Domingos Alves, professor da FMRP.
Para o ex-diretor do Instituto Adolfo Lutz e epidemiologista da Faculdade de Saúde Pública da USP, Eliseu Waldman, os altos índices dos EUA são inesperados mas que acompanham, segundo ele, uma má-governança do país. “Não se esperava inicialmente que a pandemia alcançasse os resultados nas dimensões que tem alcançado nos EUA” – Eliseu Waldman, epidemiologista.
Ele justifica a surpresa porque, ao ser uma das maiores economias do mundo, e ter um sistema de vigilância em saúde bastante efetivo, o esperado era que a resposta dos EUA fosse eficaz. Mas o pesquisador ressalta que um dos pontos fracos do país é seu sistema de saúde não universal.
