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O Brasil tem um morto a cada 15 minutos no trânsito

Em 20 anos, foram 734.938 óbitos em acidentes nas ruas e estradas do País. (Foto: EBC)

Mães perdem filhos, filhos perdem pais. São milhares as histórias atravessadas pela epidemia de mortes no trânsito que o Brasil, há décadas, vive e não tem sido capaz de controlar. A cada 15 minutos, em média, uma morte é registrada nas ruas e estradas do País. Em 20 anos, foram 734.938 óbitos, segundo levantamento do jornal O Globo a partir de dados públicos do Ministério da Saúde – número superior à população de nove capitais, como Vitória, Cuiabá e Florianópolis.

Além das vidas interrompidas e das marcas trágicas deixadas em seus sobreviventes, os acidentes sobrecarregam a saúde pública. Entre 1998 e 2018, o país desembolsou R$ 5,3 bilhões, corrigidos pela inflação, em procedimentos médicos relacionados ao trânsito, cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Quem estuda o assunto prevê que o cenário deve piorar, com mais acidentes, mortes e gastos públicos, se medidas propostas pelo presidente Jair Bolsonaro que alteram o Código de Trânsito Brasileiro avançarem no Congresso.

Para especialistas ouvidos pelo jornal O Globo, o cenário deve piorar, com mais acidentes, mortes e gastos públicos, se medidas propostas pelo presidente Jair Bolsonaro que alteram o Código de Trânsito Brasileiro avançarem no Congresso. Entre elas, o aumento de 20 para 40 pontos do limite para o motorista infrator perder a carteira.

Todos os dias temos o equivalente a um avião com cem passageiros caindo” resume Rodolfo Rizzoto, coordenador do programa SOS Estradas, que lembra o impacto gerado na Previdência: “Falta máquina de calcular aos governantes. Se você fizer a conta dos benefícios de se combater os acidentes no trânsito, vai ver que para o governo é um excelente negócio.”

A proporção de mortes no trânsito é comparável a de homicídios. Também em 20 anos, 726,6 mil pessoas foram assassinadas por arma de fogo. “Se nós não fizermos uma ação coordenada e planejada, não vamos mudar a situação. Não é tirando radar que se resolve, mas aumentando a fiscalização. O essencial está no comportamento do motorista. O trânsito nunca foi tratado como tema de governo e está sendo politizado”, avalia José Aurelio Ramalho, do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV).

Membro da Comissão de Viação e Transporte da Câmara e autor da Lei Seca, o deputado federal Hugo Leal (PSD-RJ) afirma que para reduzir os índices de acidentes de trânsito é preciso combater as causas, que vão além da imprudência: “É preciso olhar região por região. Aqui os acidentes são provocados pelo traçado errado de uma rodovia? É o motociclista que não usa capacete? É a falta de sinalização? Então vamos buscar os responsáveis pela rodovia, educar o motociclista, cobrar a sinalização.”

O perito criminal Rodrigo Kleinübing, especialista em acidentes de trânsito, pondera que as estatísticas oficiais estão aquém da realidade e que o total de mortos é ainda maior. Os dados disponíveis não considera em todo o país óbitos ocorridos até 30 dias após os acidentes, como é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e a maior parte dos estados contabilizam apenas mortes imediatas.

A realidade fica em torno de 60 mil mortes por ano no trânsito. Vivemos uma epidemia” conclui Kleinübing. “E a maioria é jovem. Olha o tamanho do problema que temos. As pessoas não estão olhando para as estatísticas.” Quase 40% dos mortos no trânsito têm até 29 anos.

Em sete estados brasileiros, o trânsito matou mais, em números absolutos, que os homicídios entre 1998 e 2017. É o caso de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Piauí e Tocantins.

Um estudo do Observatório Nacional de Segurança Viária chegou a um número ainda maior, de 15 Estados, ao comparar taxas de homicídios para cada 100 mil habitantes e o índice de mortes no trânsito em relação à fronta de veículos, no período de 2011 a 2015.

Em Santa Catarina, as mortes relacionadas ao trânsito chegam a representar o triplo dos assassinatos. Foram 38,7 mil contra 14,3 mil homicídios em 20 anos.

Enquanto o país convive com uma epidemia de mortes no trânsito, o governo Bolsonaro enviou ao Congresso um projeto de lei que, se aprovado, flexibilizará multas e exigências a motoristas. Uma das mudanças mais polêmicas pode se transformar em uma bomba-relógio nas estradas: o fim do exame toxicológico para motoristas profissionais, como caminhoneiros e motoristas de ônibus.

Um levantamento do SOS Estradas, com base em dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), aponta que houve redução de 34% nos acidentes envolvendo caminhões nas estradas federais do país, após a obrigatoriedade do exame toxicológico, instituída em 2015.

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