A inteligência Artificial (IA) jamais conseguirá substituir a inteligência emocional. A opinião é do psicólogo e escritor Daniel Goleman, autor do best-seller Inteligência Emocional, em que cunhou o conceito, redefinindo as habilidades necessárias aos profissionais mais qualificados no mundo corporativo. Na verdade, segundo ele, a inteligência emocional se torna ainda mais importante.
“A inteligência emocional é ainda mais importante em tempos de IA, justamente porque ela é sobre emoções”, afirmou Goleman, que fez uma palestra sobre o tema na noite de terça-feira, 12, na Rio Innovation Week, um dos principais eventos de inovação do País. “A IA se compara à inteligência humana em muitas coisas, em outras tantas é até mais inteligente do que nós, mas não quando se trata de emoções; a IA é um programa de computador muito bom, mas não tem emoções, não tem empatia.”
Segundo Goleman, em um estudo feito na Universidade de Harvard com centenas de pessoas que mantiveram um diário de suas atividades profissionais, a produtividade era sempre maior quando os empregados se sentiam conectados com os colegas de trabalho, quando eram capazes de sentir empatia pelos demais. Um outro estudo citado por Goleman, desta vez de Yale, revela que, no ambiente de trabalho, quando uma pessoa não está se sentindo bem, isso tem um impacto negativo nos colegas.
“A IA também não consegue imitar nuances sutis; por exemplo, que tipo de piada eu poderia contar para um amigo em um bar, depois de beber bastante? E que tipo de piada eu poderia contar aos meus filhos, em casa? E para um padre, depois da missa de domingo?”, exemplificou o especialista. “A IA não consegue fazer esse ajuste de contexto social de maneira apropriada, também não tem uma bússola moral. Um outro problema é que, numa conversa muito íntima, com um namorado ou com um chefe, por exemplo, o que é dito é tão importante quanto o não dito e a IA só entende o que é dito.”
Outro estudo citado por Goleman mostra que, quando um profissional vira líder, a demanda por inteligência emocional também aumenta. Sem ela, dificilmente ele será considerado um bom chefe.
“Quem quer ser um bom chefe, não quer ditar regras, quer persuadir, perceber com quais questões precisa lidar, resolver conflitos; ou seja, é preciso trabalhar com nuances”, afirmou. “A IA nunca vai conseguir substituir a interação entre as pessoas.”
Goleman contou que se surpreendeu ao constatar que seus livros fazem muito sucesso no Brasil, mesmo em comparação a países desenvolvidos. Segundo ele, isso acontece por conta da inteligência emocional marcante dos brasileiros. “Acho que os brasileiros são muito conectados às suas emoções, muito próximos de suas emoções”, afirmou o psicólogo. “Em muitas culturas do norte da Europa, por exemplo, as pessoas sentem, claro, mas não demonstram.”
Na análise de Goleman, à medida que a IA entrar cada vez mais em nossa rotina de trabalho, maior será o valor dado à inteligência emocional. “Isso é o mais importante de ensinar a nossos filhos, esse aprendizado emocional, são essas habilidades que serão demandadas pelos que buscam contratar profissionais, porque isso os torna mais eficaz em todas as funções.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.