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O calote de empresas subiu após a paralisação dos caminhoneiros

Greve segue repercutindo na economia. (Foto: Roberto Parizotti/Fotos Públicas)

Após a paralisação dos caminhoneiros, o calote de empresas subiu. Passados quatro meses de estabilidade, o número de empresas com pagamentos em atraso voltou a acelerar em maio, influenciado pela greve dos caminhoneiros que paralisou o País por mais de dez dias. No mês passado, 5,5 milhões de companhias estavam na lista de inadimplentes, aponta a Serasa Experian, empresa especializada em informações financeiras. Esse é o maior número de empresas com pagamentos atrasados desde março de 2016, quando o levantamento começou a ser feito.

De janeiro a abril, 5,4 milhões de empresas mensalmente tinham dívidas em atraso. Em maio, mais 100 mil companhias engrossaram essa lista. Em comparação com o mesmo mês de 2017 houve um acréscimo de 400 mil empresas, um aumento de 7,8%.

As dívidas com pagamento atrasado também cresceram 4,3% na comparação anual e atingiram R$ 124,3 bilhões.

“A greve dos caminhoneiros impactou as cadeias de produção e as empresas pararam de produzir e vender”, afirma o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi. Sem girar os estoques, elas ficaram sem capital de giro para honrar os pagamentos das contas básicas e as dívidas com sistema financeiro e fornecedores.

Rabi explica que por esse levantamento não é possível saber qual é o período médio de atraso porque o critério de inadimplência é fixado pelo credor. Isto é, a Serasa Experian reúne numa mesma lista o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) das empresas que deixaram de pagar as contas no prazo, seja com um dia de atraso ou mais de 30 dias, por exemplo.

Serviços

O levantamento mostra que o aumento da inadimplência foi puxado pelas empresas prestadoras de serviços. No mês passado, essas companhias responderam por quase a metade (48%) das empresas com pagamentos atrasados. Em maio do ano passado, as prestadoras de serviços representavam 46,7% do total de companhias inadimplentes.

Rabi argumenta que o prejuízo provocado pela greve se concentrou no setor de serviços porque ele reúne um número maior de pequenas e microempresas. Normalmente as pequenas e microempresas já enfrentam maior dificuldade de capital de giro e, com a greve, tiveram piora nesse quadro.

Para os próximos meses, a tendência para o calote das empresas não é de estabilização, segundo o economista. Ele argumenta que a situação financeira das companhias está muito ligada ao ritmo e crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), que pode continuar desacelerando.

Indústria

A greve dos caminhoneiros que parou o País por 11 dias em maio fez a indústria brasileira registrar o pior desempenho de sua história. A produção industrial despencou 13,4% no mês passado na comparação com abril, o que representa um impacto maior que o da crise financeira global, de 2008, quando a queda, em um único mês, foi de 11,2%.

A estimativa referente a maio é do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). “É uma estimativa ainda bastante conservadora, porque a retomada e o escoamento da produção demoraram um tempo depois do fim da greve”, diz Julia Nicolau, consultora de Desenvolvimento Econômico da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro). “Houve caso de um fabricante de massa que interrompeu a produção porque não recebeu farinha. Um produtor de leite teve de jogar fora litros do produto porque venceu a data da validade.” Um levantamento da federação nos dias mais críticos da greve aponta que seis em cada dez indústrias fluminenses pararam ou reduziram as atividades durante a paralisação.

Os cálculos do Ipea mostram que a greve derrubou a atividade econômica como um todo em maio, interrompendo o processo de retomada. O instituto estima que, além da indústria, as vendas do comércio varejista tenham recuado 1,4% na passagem de abril para maio, sob influência da crise de desabastecimento causada pela paralisação. A expectativa é que as perdas generalizadas prejudiquem os dados do Produto Interno Bruto brasileiro no segundo trimestre, embora alguns setores tenham apresentado desempenho bastante positivo em abril.

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