Talvez por ser uma maneira de lidar com os horrores da vida, o cinema de terror continua em alta nas bilheterias no mundo todo. Invocação do Mal 4: O Último Ritual, de James Wan, estreou há duas semanas e já está entre as dez maiores bilheterias do ano no Brasil. Pecadores, dirigido por Ryan Coogler, continua entre as cinco maiores rendas de 2025 nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que aparece como forte candidato a figurar entre os indicados ao Oscar 2026. A Hora do Mal, de Zach Cregger, aparentemente vai ser outra das apostas para a campanha pelas estatuetas, em que pese uma certa reticência da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood ao gênero.
Chegaram às salas brasileiras outros três exemplares: Animais Perigosos, filme independente australiano dirigido por Sean Byrne e que fez sucesso na Quinzena de Cineastas, a principal mostra paralela ao Festival de Cannes, A Longa Marcha: Caminhe ou Morra, de Francis Lawrence e baseado na obra de Stephen King, que não é cheio de sustos, mas gira em torno de muitos horrores, e o brasileiro Apanhador de Almas.
O filme dirigido por Fernando Alonso (não é o piloto de Fórmula 1) e Nelson Botter Jr. é ainda um raro exemplar de terror no cinema nacional. E, mais unicórnio ainda, é uma produção de horror produzida em solo brasileiro e estrelada unicamente por mulheres. Na trama, inspirada na obra de H.P. Lovecraft, quatro jovens aspirantes a bruxas visitam a casa da misteriosa Rea (Angela Dippe) para participar de um ritual. Mas Emília (Klara Castanho), Mia (Jessica Córes), Olívia (Duda Reis) e Isabella (Priscilla Sol e Larissa Ferrara) não têm ideia de que vão evocar uma criatura de outra dimensão, sendo obrigadas a entrar em um jogo de sobrevivência que coloca em risco sua amizade e sororidade.
“Eu sou sempre a favor dos elencos serem majoritariamente femininos, acho maravilhoso. E nesse filme em específico, a gente teve a possibilidade de explorar diferentes vertentes e histórias”, disse Klara Castanho em entrevista. “São personalidades muito diversas dentre as personagens e conseguimos caminhos muito opostos entre elas.”
Apesar de os dois diretores serem homens, as atrizes apontam que boa parte da equipe era feminina. “E isso imprime o nosso lado. Tem aquele olhar feminino”, disse Priscila Sol. “Você entra no universo da bruxaria. Todas nós somos um pouco bruxas. Quando me chamaram para fazer o filme, na hora topei, porque também estudo um pouquinho de bruxaria.”
Terror à brasileira
Apesar de o Brasil ter um grande nome do horror, Zé do Caixão, não é um gênero muito explorado no cinema brasileiro nos últimos anos, especialmente em sua versão mais comercial. “Eu sou a favor de a gente experimentar tudo o que tiver disponível, principalmente quando a gente tem um caminho ainda afunilado”, disse Klara. “Quando a gente começa a explorar aqui no Brasil uma vertente que é tão grande fora, que tem tanto público, como o suspense, o terror, o thriller, a gente está abrindo portas para descobrir, criando mais possibilidades para a gente também. E tem um gosto diferente estar em um set de um filme de suspense. Você tem que acreditar, você tem que comprar.”
Larissa Ferrara contou ter ficado muito empolgada com a oportunidade. “Eu adoro thriller, meu sonho sempre foi que houvesse um mercado muito grande desse tipo de filme no Brasil. É um outro jeito de fazer filme. As emoções são mais cruas, a gente tem que acessar o medo, as paranoias, emoções muito diferentes.”
Sem sustos no set
Nenhuma das atrizes foi testemunha de nenhuma atividade sobrenatural no set. “Mas a gente pedia licença para entrar na casa, que era afastada, um pouco assombrada”, disse Castanho.
Ferrara contou que costuma ficar mergulhada na personagem, mas desta vez adotou outra postura. “Eu fazia questão de acabar a cena e já fazer uma piada, começar a rir, para quebrar. Eu tenho uma sensibilidade, então preferi não mexer com isso.”
O elenco e a equipe desenvolveram antídotos para a atmosfera soturna da locação. Depois, uma escapada sempre que possível. “Tinha um jardim muito gostoso e bonito, e a gente ficava lá”, contou Duda Reis. Jéssica Córes apontou que esses eram momentos essenciais. “Ficamos 12 horas filmando, é importante ter respiros.”
Já Priscila Sol afirmou ter acontecido, sim, algo com ela. “Só assistindo ao filme para saber o que se passou comigo, eu atriz. E tiveram de fazer o filme de outro jeito. Fica aqui um spoiler.” Uma dica: Isabella, sua personagem, é interpretada também por Larissa.