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O Conselho Nacional de Justiça vai investigar a relação do desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro Paulo Rangel com um empresário preso naquele Estado

CNJ vai investigar relação do desembargador Paulo Rangel com empresário preso. (Foto: Luiz Silveira/Agência CNJ)

O Conselho Nacional de Justiça vai investigar a relação do desembargador Paulo Rangel com um empresário preso no Rio. Paulo Rangel votou a favor de conceder foro privilegiado a Flávio Bolsonaro no caso da rachadinha.

O desembargador Paulo Rangel está sendo cobrado a dar explicações sobre a relação dele com o empresário Leandro Braga de Souza. Leandro foi preso em maio na Operação Favorito, suspeito de participar de desvios em contratos com a Secretaria Estadual de Saúde do Rio.

Além da empresa investigada nessa operação, Leandro Braga de Souza também foi dono da LPS Corretora de Seguros. O desembargador Paulo Rangel comprou do empresário uma participação na corretora e se tornou sócio. Leandro saiu da sociedade.

O procedimento que apura suposta prática de infração disciplinar do desembargador foi aberto em maio. Mas, na quinta (25), depois de analisar as informações preliminares de Paulo Rangel, o corregedor do CNJ, ministro Humberto Martins, decidiu que “diante da complexidade da matéria, que envolve a mudança de controle societário e a admissão do magistrado no quadro de sócios, tenho que as investigações devem ser aprofundadas, para que não haja dúvida sobre a integridade ética da sua conduta perante à sociedade”.

Em maio, depois da Operação Favorito, o desembargador disse ter apenas uma cota da LPS Corretora e que não participa da administração da empresa.

O desembargador Paulo Rangel deu o voto decisivo, na quinta, para conceder foro privilegiado a Flávio Bolsonaro. A decisão, que teve dois votos a favor e um contra, tirou a investigação do esquema da rachadinha do juiz da primeira instância e deu a Flávio o direito de ser julgado no Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio, a segunda instância.

A decisão dos desembargadores contraria entendimento do Supremo Tribunal Federal de 2018, de que pessoas com foro por prerrogativa de função, o foro privilegiado, só devem ser julgadas em instâncias superiores durante o exercício do mandato e por fatos relacionados ao cargo.

No voto de quinta, que deu o foro privilegiado a Flávio Bolsonaro, o desembargador Paulo Rangel contrariou o que ele próprio já defendeu. Como foi revelado pelo jornal O Globo, no livro “Direito Processual Penal”, que teve a 27ª edição publicada em 2019, o desembargador escreveu: “se o agente não mais ocupa o cargo para o qual foi estabelecida a competência por prerrogativa de função, não faz sentido que permaneça com o foro privilegiado.”

Na quinta, além de votar a favor de Flávio Bolsonaro, Paulo Rangel foi o único a defender a anulação de todas as decisões tomadas pelo juiz da primeira instância, Flávio Itabaiana, como a quebra de sigilo de Flávio Bolsonaro e a prisão do ex-assessor dele Fabrício Queiroz. Mas o desembargador foi voto vencido nesse ponto.

A anulação das decisões e das provas era um pedido da defesa de Flávio Bolsonaro, assinado pela advogada Luciana Pires. Luciana tem uma relação de amizade com o desembargador Paulo Rangel. A advogada aparece em fotos publicadas nas redes sociais ao lado dele.

A investigação da rachadinha, que baseou todas decisões da Justiça até agora, foi conduzida pelo Grupo de Combate à Corrupção do Ministério Público, o GAECC. O mesmo grupo que também investigou as fraudes na Saúde do Rio na operação que tem como um dos suspeitos o homem apontado com ligações com Paulo Rangel.

O Tribunal de Justiça e o desembargador Paulo Rangel não se manifestaram na sexta-feira (26).

A advogada Luciana Pires disse que, com 16 anos de atuação no Rio de Janeiro, tem relação profissional com muita gente no meio jurídico e que essa relação nunca interferiu no andamento dos processos.

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