Nessa quarta-feira, em seu primeiro depoimento ao juiz federal Sérgio Moro (responsável pelos processos da Operação Lava-Jato na primeira instância), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ter ocultado ser dono do triplex na praia do Guarujá (SP). O MPF (Ministério Público Federal) o acusa de ter recebido o imóvel como parte de propina da empreiteira OAS, que tinha contratos com a Petrobras. Após o interrogatório, a Justiça liberou a divulgação dos vídeos da sessão, realizada em Curitiba (PR) das 14h18min às 19h10min, ou seja, com um duração de quase cinco horas.
“Eu nunca tive a intenção de adquirir o triplex”, declarou o líder petista. “Não solicitei, não recebi e não paguei nenhum triplex. Não tenho esse apartamento”. Em outro momento do interrogatório, ele também negou ter orientado o ex-presidente da OAS Leo Pinheiro a destruir provas documentais de supostos pagamentos de propina ao PT: “Isso nunca aconteceu e nunca vai acontecer”.
Lula confirmou ter visitado o imóvel, pois a contrutora pretendia vendê-lo à sua família. Ele rejeitou, porém, a hipótese de que tenha orientado reformas no imóvel. “O que eu sei é que, no dia que eu fui, foram mostrados muitos defeitos no prédio, defeitos de escada, defeitos de cozinha”, relatou.
O ex-presidente também questionou as investigações do MPF. “O Ministério Público deve ter pelo menos algum documento que prove o direito jurídico de propriedade para poder dizer que esse triplex é meu”. Moro, então, o confrontou sobre o documento de adesão de uma unidade duplex no edifício em Guarujá e que depois acabou se transformando em triplex.
Conforme o magistrado, esse registro foi apreendido na casa do ex-presidente mas não está assinado. Lula rebateu: “Então não está assinado, doutor. Talvez quem me acusa saiba como isso foi parar lá em casa, sem a adesão de 2004, quando a minha mulher [a ex-primeira-dama Marisa Letícia, falecida em fevereiro deste ano] comprou o apartamento da cooperativa Bancoop em 2005”.
Próximas etapas
Com esse depoimento de Lula a Moro, o processo chega à sua reta final. A partir de agora, o MPF e as defesas poderão pedir as últimas diligências. Caso isso não ocorra, o juiz determinará os prazos para que as partes apresentem as alegações finais. Em seguida, os autos voltam para Moro, que vai definir a sentença, podendo condenar ou absolver os réus. Não há prazo para que a sentença seja publicada.
Lula desembarcou no aeroporto Afonso Pena, na região Metropolitana da capital paranaense, por volta das 10h, em um avião particular que partiu de São Paulo. Em seguida, ele foi para um escritório de advocacia no bairro Boa Vista. De lá, saiu em direção à sede da Justiça Federal, onde chegou às 13h45min (15 minutos antes do horário previsto para o início da audiência). Ele deixou o prédio logo após o interrogatório, rumo a uma manifestação em seu apoio.