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O dólar deve rondar os 5 reais até o fim de 2021

Apesar do alívio recente no mercado, analistas alertam para efeito de risco fiscal. (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

Apesar da firme queda do dólar desde o começo de novembro, analistas que compõem o grupo que mais acerta suas projeções de câmbio ainda trabalham com um cenário de dólar forte no fim de 2020. Os integrantes do “Top 5” de médio prazo do Boletim Focus veem o risco de um repique da moeda nas próximas semanas e se apoiam em estimativas mais conservadoras que o resto do mercado.

Dentre os economistas do Top 5 – formado por Itaú Unibanco, Rabobank Brasil, LAIC, FGV e Previ -, quatro trabalham com dólar em R$ 5,25 ou acima dessa marca no fim de 2020, enquanto a mediana das projeções no Focus é de R$ 5,20. A exceção nesse grupo é a Previ, que tem um câmbio de R$ 5,0847 no período, mas a instituição ressalta que as projeções são para uso interno e podem ser alteradas a qualquer momento.

A falta de definições no campo fiscal é um dos principais obstáculos a um recuo maior da divisa americana e afasta a cotação do que seria seu valor justo – medido pelas contas externas e outros fundamentos econômicos. Para os analistas do Top 5, um alívio mais claro só deve vir em 2021, quando a questão fiscal for resolvida.

Na segunda (14), por exemplo, o dólar comercial sofreu um solavanco e fechou em alta de 1,55%, a R$ 5,1228, em um movimento de correção que foi intensificado por preocupações com a situação fiscal. Depois de tocar R$ 5,01 logo pela manhã, a moeda abandonou a baixa e passou a subir. O avanço ganhou força com o temor dos investidores sobre a pressão em Brasília pela extensão do auxílio emergencial, que colocaria as contas públicas em situação ainda mais delicada.

“Tivemos um descolamento muito grande ao longo deste ano. Pelos nossos modelos, o câmbio de equilíbrio apontaria para o dólar entre R$ 4,20 e R$ 4,40. Talvez, se conseguirmos de fato endereçar os principais pontos da agenda econômica, a trajetória de apreciação do câmbio pode se dar de forma mais acelerada do que o esperado, mas ainda estamos longe disso. Preferimos ter uma projeção mais conservadora no momento”, afirma o economista-chefe do Rabobank Brasil, Mauricio Une, projeta que o dólar encerrará 2020 em R$ 5,25 e chegará ao fim do próximo ano em R$ 5,05.

O cenário básico do banco holandês contempla crescimento ao redor de 3% em 2021, após tombo de 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil neste ano, além de uma desaceleração do IPCA de 4,4% no fim deste ano para 3,3% em dezembro de 2021. Já o início do processo de normalização da política monetária se daria no quarto trimestre de 2021, com o juro básico chegando a 3% no fim do ano.

Para Une, o fluxo de capitais estrangeiros que deu apoio à apreciação do câmbio brasileiro neste fim de ano pode ter continuidade no ano que vem, a depender da dinâmica de crescimento mundial. O economista afirma que, com a permanência da forte acomodação monetária em países desenvolvidos e com a perspectiva de crescimento mundial mais acelerado do que o dos EUA, “temos a sensação de que podemos ver algum fluxo a mais, já que estamos sendo surpreendidos pela velocidade [da retomada]”. O Rabobank trabalha com um crescimento mundial de 4,4% em 2021, enquanto o PIB americano teria expansão de 3%.

Apesar dos ventos favoráveis lá de fora, o alívio recente no mercado de câmbio tem pouco a ver com uma melhora de fundamentos econômicos do país e, diante de persistentes problemas aqui, arrisca ser revertido no curto prazo, alerta Vitor Carvalho, sócio e gestor da LAIC. Mais pessimista que boa parte dos analistas, Carvalho trabalha com projeção de R$ 5,40 no fim deste ano e de R$ 5,21 no ano que vem. Ele explica que o risco de um descontrole das contas públicas e a política monetária ultra-acomodatícia, com taxas de juros reais negativas, geram um desequilíbrio no câmbio no Brasil.

“Não houve mudança estrutural macroeconômica no Brasil. Ainda enfrentamos a falta de definição sobre a situação fiscal com o agravante da política monetária, que matou o carry trade”, afirma. Para ele, o que motivou o alívio recente foi fluxo financeiro de investidores institucionais locais, que desmontaram posição de hedge por causa da mitigação de incertezas lá fora e no Brasil – incluindo a venda de swap cambial pelo BC para enfrentar os efeitos do “overhedge”.

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