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Presidenciáveis gastam menos em propaganda, e publicitários perdem protagonismo

Evento gratuito em Porto Alegre promete inspirar empresários a atingirem bons resultados. (Foto: Freepik)

Ao fim da era dos chamados “supermarqueteiros” – publicitários que movimentaram milhões de reais e tiveram suas contas devassadas pela Justiça até que fossem alvos de denúncias de corrupção -, os principais nomes de candidatos que disputam a Presidência da República este ano devem desembolsar menos recursos para tentar dar publicidade às suas campanhas. Menos, mas, em alguns casos, ainda na casa dos milhões.

A mudança acontece ao passo em que saem de cena alguns dos nomes que mais fizeram fama no meio da publicidade política. João Santana, que trabalhou para o PT, está em prisão domiciliar desde que deixou a carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Duda Mendonça, por sua vez, chegou a admitir ter recebido dinheiro de caixa 2.

Se hoje os recursos são mais escassos, em 2014 os números não disfarçavam a abundância. Santana, que trabalhou para Dilma Rousseff, ganhou, oficialmente, R$ 70 milhões. Foi a mesma quantia depositada ao marqueteiro Paulo Vasconcelos, que trabalhou para o tucano Aécio Neves naquela eleição. Ambos foram acusados de movimentar recursos de caixa 2. Oficialmente, ninguém fala o quanto pretende gastar exclusivamente com quem tentará moldar sua imagem à expectativa do eleitor.

Campanhas

A campanha do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), por exemplo, pretende gastar R$ 10 milhões com Lula Guimarães, enquanto Jair Bolsonaro (PSL), líder das pesquisas, tem garantido que fará uma campanha modesta. O pré-candidato já informou que pretende gastar R$ 1 milhão.

Ciro Gomes (PDT) buscou ajuda em um discípulo de Duda para sua campanha. Também com uma campanha modesta, Marina Silva (Rede) não pretende apostar em “grifes” da publicidade. Vai trabalhar com voluntários.

Embora diga que não goste de “marqueteiro”, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) já tem pelo menos duas agências de comunicação trabalhando em sua campanha à Presidência: a 9ideias, de João Pessoa, na Paraíba, e a fluminense AM4, especializada em estratégias digitais. Profissionais das duas empresas estiveram na convenção do partido no último domingo. Ao Globo, disseram que o trabalho na pré-campanha não é remunerado. Os contratos e valores para o período eleitoral ainda estariam sendo discutidos.

O PSL tem direito a R$ 9 milhões do Fundo Eleitoral, mas Bolsonaro disse que não utilizará a quantia e que sua campanha, que dispõe de 8 a 12 segundos de tempo na televisão, gastará apenas R$ 1 milhão.

O responsável pelo marketing de Geraldo Alckmin (PSDB) será Lula Guimarães. Ele é apontado como uma opção no meio do caminho entre estreantes e veteranos em campanhas eleitorais. Sua maior vitrine é a candidatura vitoriosa de João Doria a prefeito de São Paulo em 2016. Antes, em 2014, ele havia trabalhado com a ex-senadora Marina Silva na disputa presidencial.

As cifras do contrato de Lula com a campanha deste ano são mantidas sob sigilo. Dois anos atrás, o publicitário cobrou R$ 4,7 milhões para produzir a propaganda eleitoral de Doria, conforme dados declarados à Justiça Eleitoral. Estimativas reservadas de integrantes da campanha de Alckmin apontam para uma despesa de cerca de R$ 10 milhões com o marqueteiro este ano — pouco mais de 10% do teto de gasto de R$ 70 milhões estipulado para campanhas presidenciais pelo TSE.

Auxílios luxuosos

Sem marqueteiros conhecidos e com menos recursos para financiar as campanhas, os presidenciáveis Marina Silva (Rede) e Jair Bolsonaro (PSL) vão contar com auxílios luxuosos, ao menos de forma pontual, em suas produções. O capitão da reserva do Exército foi dirigido pelo publicitário Roberto Medina, o criador do Rock in Rio, em um dos filmes para sua propaganda, e a ex-senadora contará novamente com o apoio do cineasta Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus.

Medina disse ter conhecido Bolsonaro há cerca de 15 dias, em um almoço na casa do empresário Paulo Marinho, no Jardim Botânico. Na mesma ocasião, acompanhou as gravações para o programa eleitoral, como noticiou o colunista Lauro Jardim na semana passada.

“Nunca tive ligação com Bolsonaro. O Paulo Marinho pediu para ir almoçar na casa dele e assistir a uma gravação. Ouvi as ideias dele [Bolsonaro], dei os meus pitacos sobre o Rio de Janeiro e sobre meu pensamento de comunicação”, firmou o empresário, negando que trabalhará na campanha do deputado.

Já Meirelles, que também trabalhou voluntariamente para Marina em 2010, revelou, no mês passado, a mensagem a ser transmitida: “Já posso até dar uma palhinha do que vem por aí neste programa: o combate feroz e incondicional às desigualdades dentro de um modelo de desenvolvimento sustentável.”

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