O mês de outubro será crucial para o futuro do presidente da Argentina, Javier Milei. No fim do mês o país terá eleições legislativas para trocar metade da Câmara e um terço do Senado, o que pode determinar o grau de governabilidade que Milei terá até o fim do seu governo.
“A economia argentina, depois dos ajustes de Milei, estava dando sinais de recuperação, mas aí começou a cair novamente”, diz a colunista do Estadão Maria Carolina Gontijo, a Duquesa de Tax. Ela explica que as coisas começaram a se deteriorar com o suposto envolvimento da irmã de Milei, Karina Milei, em denúncias de corrupção. “Isso já foi o suficiente para aquela frágil e combalida reputação do governo argentino ir por água a baixo e o negócio ficar completamente fora de controle.”
Mas isso significa que o plano de Milei naufragou? Não, diz a Duquesa. Após meses de tensão política, Milei tem dado sinais de flexibilização em sua postura. Um dos episódios mais emblemáticos foi a retomada do diálogo com o ex-presidente Mauricio Macri, numa tentativa de construir pontes com setores mais moderados, diz a Duquesa. O gesto revela que Milei reconhece a necessidade de alianças, sobretudo depois do revés nas eleições provinciais em Buenos Aires, quando perdeu por uma margem bem maior do que o esperado.
No campo econômico, o presidente tenta capitalizar resultados de seus ajustes. Apesar da queda de popularidade após denúncias envolvendo sua irmã, o governo tem defendido a redução da pobreza como trunfo político: cerca de 9,5 milhões de argentinos deixaram a linha da pobreza nos últimos meses. Ainda assim, o índice permanece alto, com aproximadamente 31% da população em situação de vulnerabilidade, mantendo a pressão sobre o governo.
Novo revés
O Senado argentino reverteu na última quinta-feira (2) dois vetos de Javier Milei e manteve as leis que ampliam fundos para universidades e hospitais pediátricos, um golpe à política de austeridade do presidente em meio à volatilidade financeira que vive o país vizinho ao Brasil.
O revés no Congresso ocorreu em uma semana particularmente difícil para Milei, que busca acalmar uma corrida no câmbio antes das eleições legislativas de 26 de outubro, nas quais precisa demonstrar que terá governabilidade.
O Senado invalidou por ampla maioria os vetos de Milei à emergência pediátrica (59 votos contra 7) e ao financiamento universitário (58 contra 7). Frente ao Congresso, onde uma centena de pessoas aguardava os votos, o estudante de psicologia Tomás Bossi se disse “orgulhoso” do resultado. “Viemos há mais de um ano em um processo de luta e de resistência contra o desfinanciamento atroz das universidades”, disse à AFP.
Milei conseguiu reduzir a inflação de 211% anuais em 2023 — quando assumiu — para 118% em 2024, e nos oito primeiros meses de 2025 os preços apenas subiram 20%, graças a um duro ajuste fiscal que atingiu especialmente hospitais e universidades. “No hay plata (Não tem dinheiro)”, disse o presidente para justificar seu veto aos aumentos no orçamento.
“Milei não fala nunca de saúde nem de educação, jamais. Fala do risco-país, do risco monetário”, diz o opositor Martín Lousteau, enquanto o senador peronista Daniel Bensusán afirma que o debate “não é técnico, fiscal ou contábil: é político e moral”.
As leis que Milei tenta abortar preveem atualizar o orçamento universitário segundo a inflação desde 2023 e reajustar os salários de docentes e administrativos. Também declaram uma emergência pediátrica que implica destinar fundos para o hospital Garrahan, o principal centro pediátrico de alta complexidade do país e referência regional. “Tenho muita esperança de que algo mude”, disse, diante do Congresso, Alejandra Maldonado, de 50 anos e enfermeira neonatal do Garrahan. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo e da agência de notícias AFP.