O futuro ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez bate com as duas mãos no PT, na Teologia da Libertação, no “aparelhamento do Estado por marxistas” e em tudo mais que lhe pareça associado às ideias do italiano Antonio Gramsci (1891-1937), principal teórico, para ele, de movimento mundial, cultural e educacional de conquista de governos pela esquerda.
Esse colombiano de 75 anos, radicado no Brasil desde a década de 1970, é favorável ao projeto “Escola Sem Partido”, critica a discussão de gênero nos colégios e acredita que a saída está na iniciativa privada e em uma cultura liberal construída de baixo para cima, desde o ambiente político dos municípios.
Ele chegou ao País para estudar, munido de diplomas de graduação e doutorado em Filosofia e Teologia obtidos em Bogotá (Colômbia) e tem como norte de seu pensamento político a direita liberal, amparado na matriz do francês Alexis de Tocqueville (1802-1859), defensor do sistema de representação política americano que, por outro lado, temia o despotismo de maiorias.
Vélez é um fã do modo de vida dos Estados Unidos, onde vive o escritor Olavo de Carvalho, responsável por indicá-lo ao governo. Vélez nunca teve experiência como a que encontrará em janeiro e nem geriu orçamentos enormes – o do Ministério da Educação está na casa de R$ 108 bilhões. O que o levou ao cargo foram seu conhecimento da política do País e claras posições antimarxistas contrárias ao que chama de “lulopetismo”.
Professor emérito da Escola de Comando do Estado-Maior do Exército, o futuro ministro costuma refletir que o líder sindical que chegou ao poder em 2002 – e hoje cumpre pena por corrupção em Curitiba – é parte do plano esquerdista de controle social segundo os preceitos gramscianos da “hegemonia da classe trabalhadora”, pregação encontrada nos Cadernos do Cárcere, obra de Gramsci.
Em artigos no jornal “O Estado de São Paulo”, Vélez analisa a realidade do País desde os caudilhos do século 19, período de pesquisa acadêmica que embasa sua retórica liberal.Uma obra sua é Castilhismo: Uma Filosofia da República, em que disseca o republicano gaúcho Júlio Prates de Castilhos (1860-1903) para concluir: “O autocratismo castilhista não entrou no jogo ao acaso ou como simples transposição de uma teoria estrangeira. Preencheu um vazio no pensamento da elite dirigente brasileira, desobrigando-a da má consciência de haver contestado radicalmente a monarquia, sem dar solução ao problema fundamental colocado por ela: a representação”.
Em “Por Que Ler Saint-Simon”, de 22 de março de 1981, trata da religião na organização social e discute o que chamou de “messianismo da Teologia da Libertação”, atuação de setores da Igreja Católica na política brasileira à esquerda desde a redemocratização. “Ideologia totalizante visando a redenção do homem latino-americano das cadeias da dependência, mediante implantação da ditadura do proletariado.”
No texto Política e Regeneração Nacional, de 25 de junho de 2017, atacou seguidores de Lula. “A reação da sociedade brasileira contra os desmandos do lulopetismo, potencializado pelo cientificismo marxista, não pode cair nesse beco sem saída que nos leva direto ao passado da ditadura positivista.” Nem tanto lá, nem tanto cá, uma preocupação tocquevilliana.
Dilma e militares
Por outro lado, em agosto de 2012 Vélez chegou a escrever que a então presidenta Dilma Rousseff poderia se firmar como estadista se, com as privatizações necessárias, confrontar de forma decidida os dirigentes do grevismo irresponsável”. No texto, ele ressalvava não ter votado em Dilma ou Lula, mas sustentava o raciocínio de que ela deveria seguir a líder britânica Margaret Thatcher (1925-2013). As liberdades e a iniciativa privada são pontos centrais em sua obra, além de defender a redução da participação do Estado nos negócios.
Um dos criadores do Instituto Humanidades, Vélez concorda com premissas do golpe de 1964, elogia a ação dos militares que, segundo defende, livrou o País do “comunismo”. Mas, como bom tocquevilliano, tem críticas e objeções à ditadura. Em palestra na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), divergiu do governo militar. A sua reflexão é que o modelo adotado atrapalhou o desenvolvimento do pensamento liberal. Ele tambèm critica os “generais gaúchos” que comandaram o País, por terem promovido uma política patrimonialista e estatizante.
O futuro ministro diz que intelectuais da esquerda voltaram no fim dos anos 1970 e acharam terreno fértil para teses esquerdizantes pela falta de consistência no conhecimento teórico dos liberais. Para Vélez, a posição do regime permitiu o avanço esquerdista levou à eleição de governos, sequência interrompida só com o impeachment em 2016.