Ex-comandante do Exército e atual assessor do Palácio do Planalto, o general Eduardo Villas Bôas voltou a criticar Olavo de Carvalho, ideólogo do governo Jair Bolsonaro (PSL). Segundo o militar, o escritor participou de “praticamente todas as crises” da atual gestão.
“Praticamente todas as crises que nós vivemos desde que o presidente Bolsonaro assumiu têm a participação direta ou indireta do Olavo de Carvalho, que não contribui”, disse o militar a jornalistas, depois de acompanhar a fala do ministro Sergio Moro (Justiça) em uma comissão da Câmara.
“Temos tantas questões importantes, e a gente fica dispersando energia com questões que absolutamente não contribuem para a solução dos problemas”, completou o general nesta quarta-feira (8).
Villas Bôas deixou o comando do Exército no início deste ano e passou a ocupar posto de assessor especial no GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
As críticas de Olavo de Carvalho se repetem há semanas contra generais da reserva que integram o governo, com foco no vice-presidente, Hamilton Mourão, e no ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo).
Além disso, o escritor foi acompanhado nos ataques pelo filho de Bolsonaro responsável por suas redes sociais, o vereador carioca Carlos (PSC). Não houve um enquadramento incisivo deles pelo presidente.
Questionado nesta quarta-feira se a crise entre militares e a ala olavista seria permanente em seu governo, o presidente disse: “Não tem uma pergunta mais inteligente para fazer, não?” Bolsonaro também se negou a comentar a criação de dois novos ministérios.
Trótski de direita
No início desta semana, diante das críticas de Olavo, o Alto Comando do Exército deu seu recado a ele por meio de Villas Bôas. Na segunda-feira (6), o general da reserva criticou Olavo em sua conta no Twitter, o chamando de “Trótski de direita”, em referência ao líder revolucionário soviético.
Isso ocorreu após o ministro Santos Cruz quase deixar o governo no fim de semana, após queixar-se com o presidente de campanha virtual de olavistas. Só que Bolsonaro dobrou a aposta na manhã de terça (7), postando também no Twitter um desagravo ao escritor, que chamou de “ícone”.
“Continuo admirando o Olavo. Quanto aos desentendimentos ora públicos contra os militares, aos quais devo minha formação e admiração, espero que seja uma página virada”, escreveu o presidente.
Horas antes, Olavo havia postado no Twitter uma frase que revoltou o alto oficialato. “Há coisas que nunca esperei ver, mas estou vendo. A pior delas foi altos oficiais militares, acossados por afirmações minhas que não conseguem contestar, irem buscar proteção escondendo-se por trás de um doente preso a uma cadeira de rodas. Nem o [ex-presidente] Lula seria capaz de tamanha baixeza.”
O doente em questão é o general Villas Bôas, que sofre de grave mal degenerativo do neurônio motor e precisa de auxílio constante. Sua doença não afeta as faculdades mentais.
A provocação não recebeu resposta pública, de acordo com o acertado entre os comandantes das três Forças em reunião que já havia sido marcada para esta terça.