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“O governo chinês fez Donald Trump de trouxa”, diz o candidato à Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata

Corrida eleitoral, saiba como funciona o sistema norte-americano. (Foto: Reprodução)

“O governo chinês fez Donald Trump de trouxa”, dizia um comunicado de 17 de abril do candidato à Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata, Joe Biden. “Trump comprou a versão desonesta da China sobre o coronavírus e perdeu tempo precioso”, argumentava a acusação. Em um país em que o sentimento anti-China cresce vertiginosamente, o debate sobre política externa neste ano eleitoral deve focar em quem será o candidato mais apto a enfrentar o rival asiático, em um jogo de narrativas em que a China representará o papel de grande inimigo externo.

A visão negativa da China dentro dos Estados Unidos cresceu quase 20 pontos percentuais nos últimos três anos, durante o governo Trump. Em 2017, 47% dos americanos tinham visão desfavorável ao país, de acordo com o Pew Research Center. Hoje o número é de 66%. A opinião negativa prevalece tanto entre republicanos quanto entre democratas, embora seja mais forte entre os primeiros. Hoje, 72% dos republicanos e 62% dos democratas dizem ter visão desfavorável ao país. Em 2006, os números giravam em torno de 30%.

Em meio a um consenso do público, Biden e Trump lutam para acusarem um ao outro de leniência com relação ao governo chinês. A campanha de Biden investe em mensagens com linguagem assertiva, acusando Trump de se deixar levar por Pequim.

Já Trump afirma que o vice de Barack Obama chamou de xenofóbica sua decisão de proibir voos da China, uma das primeiras ações do presidente contra o coronavírus. Biden dissera no Twitter que Trump tem um histórico de xenofobia, mas não tachara a medida específica de xenofóbica.

“Se os democratas voltarem ao poder, nós não iremos retornar às políticas do governo Obama de cooperação com a China e de procurar lidar com as nossas diferenças. Eu acredito que continuará a haver muita reação contra a China nas áreas em que há ameaça aos interesses americanos”, diz a diretora do China Power Project, Bonnie Glaser. Ainda assim, a pesquisadora acredita que um governo democrata iria restaurar mecanismos de diálogo para cooperar em temas como pandemias globais e mudança climática.

Alvo antigo

A China já foi um dos principais alvos de Trump na campanha de 2016. Mas, naquela época, dividia as atenções com o México. Agora, reina sozinha. Demonizada no início da administração do republicano, a Coreia do Norte quase desapareceu de seu discurso. O Irã também perdeu protagonismo.

Propriedade intelectual, subsídios às empresas estatais, espionagem cibernética, movimentos militares e atividades no Mar do Sul da China e no Mar da China Oriental foram temas que ocuparam a agenda de Washington para Pequim ao longo do governo Trump. Também tiveram destaque a pressão militar do país sobre Taiwan e Hong Kong, a repressão aos uigures em Xinjiang e o relacionamento intimidador do governo chinês com os vizinhos no Sudeste Asiático. No topo da lista, no entanto, estavam o déficit no comércio bilateral e a expansão da gigante das telecomunicações Huawei.

Trump não conseguiu convencer seus aliados a banirem a empresa chinesa de seus países. Agora, desenha uma nova estratégia: bloqueará o fornecimento global de chips para a companhia. Empresas estrangeiras que usem equipamentos e tecnologias na fabricação de chips para a Huawei precisarão pedir licença de exportação ao governo dos EUA. As americanas estão sujeitas a essa regra desde o ano passado. A Huawei tem dependência significativa de chips importados para seus smartphones e futuras redes de 5G.

A guerra comercial iniciada em 2018 foi a principal estratégia de Trump para tentar diminuir o déficit no comércio com a China. Os dois países chegaram a uma trégua em janeiro, mas a maior parte das tarifas impostas nos meses anteriores continuou em vigor. Essa estratégia teve algum sucesso, mas Bonnie Glaser afirma que não no ritmo que se esperava.

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