A província de Buenos Aires, a maior e mais populosa da Argentina, onde vivem 38% da população do país, está oferecendo aos seus cidadãos contaminados pelo novo coronavírus um incentivo para se isolarem em instalações do governo: uma diária em dinheiro de 500 pesos, cerca de R$ 36, para os doentes de baixos rendimentos, assintomáticos ou com sintomas leves, por no máximo 10 dias.
Assim, a província pretende cortar a cadeia de transmissão do novo coronavírus depois de se tornar o epicentro da pandemia na Argentina. A província registrou 3.801 novos casos em 22 de julho, mais do que o dobro da cidade de Buenos Aires, e o maior número de mortes em todo o país.
Numa comparação, este pagamento representa um valor diário maior do que o do auxílio emergencial pago pelo governo nacional, de 10 mil pesos por mês (R$ 720). Segundo a agência nacional de estatísticas, quem está no limite da linha da pobreza ganha menos do que 14.178 pesos (R$ 1.022).
“Algumas pessoas podem sentir que, ao se isolarem, estão desistindo de algumas coisas, compras, cuidados das crianças”, disse o governador Axel Kicillof no anúncio, durante uma visita a um centro de exposições, transformado no maior parque sanitário do país, com capacidade para receber duas mil pessoas que terão atendimento médico, atenção psicológica e atividades recreativas. “A província entende que aqueles que se isolam estão sacrificando algo e pretende compensar com o subsídio.”
Após três semanas permitindo apenas atividades essenciais na grande Buenos Aires, o governo nacional deu luz verde na semana passada para que certas atividades sejam retomadas e que as lojas reabram em meio à preocupação com a economia, que deverá sofrer sua recessão mais profunda em 2020. Aos 125 dias, a quarentena na região é uma das mais longas do mundo.
A Argentina registrou 6.127 novos casos da Covid-19 nesta quinta (23), marcando um recorde diário. O país também registrou 114 novas mortes, totalizando 2.702.
Clubes como hospitais
Para desafogar a ocupação de leitos da rede de saúde pública, vários municípios argentinos requisitaram clubes, ginásios e igrejas como espaços para receberem pacientes assintomáticos ou com sintomas leves que não requeiram uma internação hospitalar.
O ginásio esportivo do Clube Português da Grande Buenos Aires, no distrito de La Matanza, um dos mais populosos da Argentina, por exemplo, deu lugar a uma espécie de hospital de campanha com 100 leitos.
“Estamos estendendo uma mão solidária a quem tem problemas habitacionais. Basicamente, este centro é para os mais necessitados que não podem se isolar em casa, mas que não estão graves a ponto de uma internação hospitalar”, aponta Víctor Estanqueiro, presidente do Clube Português da Grande Buenos Aires.
