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O governo do Estado planeja um modelo de “distanciamento social controlado” no Rio Grande do Sul a partir do mês que vem

Pesquisa mostra que apenas 10% da população está ficando em casa durante a pandemia. (Foto: Agência Brasil)

A partir do dia 1º de maio, o governo gaúcho deve optar por uma política denominada “distanciamento social controlado” para conciliar as necessidades de enfrentamento ao coronavírus e retomada das atividades econômicas em todo o Rio Grande do Sul. O plano está sendo discutido pelo Gabinete de Crise do Executivo e sua adoção ainda depende de informações mais precisas sobre a ocupação de leitos hospitalares.

Para justificar essa estratégia, o Palácio Piratini parte da constatação de que as medidas restritivas contra a pandemia têm conseguido “achatar a curva” de crescimento da Covid-19: além de um dos menores índices de infecção no País [6,2 casos por 100 mil habitantes, contra uma média nacional de 12], o Estado ocupa a terceira posição no que se refere à letalidade mais baixa da doença.

“Até aqui, tivemos de adotar restrições mais rigorosas e uniformes por não termos domínio dos dados, e em tempo real, de ocupação de leitos e pesquisas epidemiológicas populacionais”, ressaltou o governador Eduardo Leite. “Com as informações necessárias, poderemos adotar um sistema controlado, com base em níveis de restrição proporcionais ao que demonstrarem as curvas do coronavírus em cada município ou região.”

Se uma determinada localidade apresentar uma disparada nos índices de infecção e atingir a capacidade de atendimento hospitalar, por exemplo, terá o nível de restrição ampliado. Por outro lado, se a curva estatística de casos for reduzida, as medidas de distanciamento também serão relaxadas.

“Esse novo modelo de distanciamento controlado servirá de padrão para a gestão de risco da epidemia”, complementou o chefe do Executivo. “Exatamente como uma medicação de uso contínuo, nós vamos controlar a dosagem, os momentos, os efeitos, os sintomas e o aumento ou a diminuição da dose recomendada.”

“Vamos monitorar constantemente o nosso sistema de saúde, a velocidade de contágio, o número de testes, as internações, a mortalidade e leitos, e também a situação econômica e a nossa capacidade de absorção e reação dos impactos nos diversos setores e serviços”, sublinhou. “Somente a partir de dados é que decidiremos os próximos passos, tanto na saúde quanto na economia.”

Diretrizes

Além da definição dessa nova política, o governo trabalha na construção de protocolos a serem seguidos pela população e pelas empresas em cada nível, com regras sobre o que deve permanecer fechado e o que pode abrir – e sob quais condições para o segundo caso.

“Isso garantirá uma equalização e melhor conciliação entre a proteção à saúde e a atividade econômica, pois manteremos restrições na proporção desejada em cada um dos momentos que estivermos vivenciado”, prosseguiu o chefe do Executivo. Os níveis também servirão de parâmetro para que o governo possa direcionar melhor os investimentos próprios, os repasses federais e as doações:

“Como estaremos monitorando os dados e as tendências, poderemos deslocar esforços, como investimentos, equipamentos e recursos humanos, para locais onde a Covid-19 estiver apresentando crescimento e promover as alterações no comportamento das pessoas para controlar a disseminação do vírus”.

Quando estiverem mais bem definidas, todas essas medidas passarão pelos comitês temáticos, compostos por autoridades, especialistas e representantes setoriais. Em seguida, serão apresentadas à sociedade e só então publicadas em decreto.

Transição

Até que a nova política seja estruturada e implementada, Eduardo Leite adotou uma espécie de modelo transitório até o fim de abril. No dia 15, um decreto estadual prorrogou a restrição aos serviços e à circulação de pessoas somente na Região Metropolitana de Porto Alegre (responsável por cerca de 60% dos casos de coronavírus já diagnosticados no Rio Grande do Sul) e deixando sob a responsabilidade dos demais municípios a decisão de permitir a reabertura de estabelecimentos.

“As decisões dos prefeitos devem ser baseadas em evidências científicas e em análises das informações estratégicas em saúde e cumprindo os requisitos mínimos estabelecidos pela Secretaria Estadual da Saúde, como a proibição de aglomerações e a fixação de número máximo de clientes no interior dos ambientes”, declarou o governador.

“Consideramos importante preparar o Estado para entrar numa fase de modelo de distanciamento social controlado”, finalizou, na semana passada, ao anunciar o novo decreto que, em um primeiro momento, mantinha as restrições ao comércio também na Região Metropolitana da Serra Gaúcha – pressionado, horas depois ele acabou voltando atrás, mantendo “de molho” apenas na Grande Porto Alegre.

(Marcello Campos)

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