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O homem mais lindo do mundo agora já tem 80 anos

Alain Delon começou a encantar o mundo com sua beleza aos 22 anos. Crédito: Reprodução

Há dois anos, Alain Delon deu uma entrevista polêmica e, entre outros assuntos, disse que perdeu o interesse pelo mundo e que esperava passar o resto da vida cercado pelos netos e por seus animais, “para não morrer sozinho”. Reconheceu que costumava ser uma pessoa apaixonada. “Hoje, o que me falta é paixão.” Delon completou 80 anos. Nasceu em Sceaux, França, em 8 de novembro de 1935. Passou a data com os netos e os cães e gatos. Poderá até lembrar das dificuldades da infância. O pai era dono de um cinema em Sceaux, comuna na região administrativa da Ilha-de-França, no departamento de Hauts-de-Seine. Os pais separaram-se quando ele era muito pequeno. Poderia ser o garoto Antoine Doinel de “Os Incompreendidos”, se aquela não fosse a biografia de François Truffaut.

Sentia-se rejeitado, cresceu revoltado. Trocou várias vezes de colégio. Era indomável a qualquer noção de disciplina. Aos 17 anos, ante a perspectiva de se tornar um delinquente, atendeu ao chamado de um cartaz de recrutamento – “Aliste-se na aviação, você conhecerá o mundo.” Mas o contingente daquele ano estava formado e o jovem Delon foi ser soldado na Indochina, onde participou dos últimos combates antes da intervenção dos Estados Unidos no Vietnã. Desmobilizado, foi para Paris ser feirante no mercado Les Halles. Vendia frutas e verduras, carregava sacos. O lugar servia uma sopa. Na madrugada, era frequentado por prostitutas, seus gigolôs, e artistas. Um certo Jean-Claude Brialy tornou-se seu amigo e convenceu Delon de que devia descer com ele para a Côte d’Azur, para tentar a sorte no Festival de Cannes.

Era o ano de 1957. O ator era o que os franceses chamam de “jeune loup”, um lobo. Chamou a atenção da atriz Edwige Feuillère, que o colocou em um filme por ela estrelado. Bem mais jovem, Delon foi amante de Edwige por um tempo, mas, a essa altura, já havia chamado a atenção dos produtores. Fez “Christine”, formando dupla com Romy Schneider, jovem e bela como ele e que estouraria em todo o mundo na série sobre a imperatriz Sissi. Iniciaram um romance de conto de fadas.
Em 1959, um diretor de muito prestígio, mas que os “jovens turcos”, críticos da revista Cahiers du Cinéma, amavam odiar, resolveu dar o troco. René Clément ganhou mais prêmios em Cannes do que todos os grandes da nouvelle vague juntos. Fez um filme “nova onda”, “O Sol por Testemunha”, colocando Delon na pele do escroque, Tom Ripley, capaz de tudo.

O anjo de Luchino Visconti.
Nesse ano, Luchino Visconti estava fechando o elenco de “Rocco e Seus Irmãos”. Mas faltava Rocco. A filmagem aproximava-se e nada de Visconti decidir-se pelo ator que faria o papel. E, então, uma agente lhe apresentou Delon. Diante do garoto de 24 anos, teria dito: “Encontrei meu anjo”. Quando o romance com Romy terminou, teve outras belas mulheres (Mireille Darc, Nathalie Delon). E teve outros encontros notáveis com grandes diretores. Fez “A Primeira Noite de Tranquilidade” com Valerio Zurlini, “Mister Klein” com Joseph Losey e “Nouvelle Vague” com Jean-Luc Godard. Transformado em mito, ganhou o César, o Oscar francês, por “Quartos Separados”, de Bertrand Blier, em 1984. E, em 1995, Berlim lhe outorgou um Urso de Ouro de carreira. Chamado a apresentar a versão restaurada de “O Sol por Testemunha”, em Cannes, em 2013, surpreendeu dizendo que Clément foi seu mestre. Ingratidão com Visconti? Só esperamos que, revendo sua vida, ele perceba como tudo isso valeu a pena, para todos nós. (AE)

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