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O investidor estrangeiro não tem pressa de voltar ao País, afirma o chefe de operações da Western

Marc Forster, head de operações da gestora, explica o que tem reduzido o interesse pelo Brasil. (Foto: Divulgação/Western)

Enquanto o Ibovespa caía 30% em março, no auge dos impactos da pandemia na Bolsa, o fundo de ações da Western, o Western Asset FIA Bdr Nivel I, subia 2,4%, segundo dados da plataforma de investimentos Economatica. “Somos globais e isso permitiu ter muita informação de qualidade vindo dos mais diversos mercados”, afirma Marc Forster, head de operações da gestora Western Asset no Brasil. Atualmente, a gestora possui mais de R$ 44,5 bilhões sob gestão no Brasil e US$ 460 bilhões nas operações ao redor do mundo.

Com 22 anos de experiência no mercado financeiro, o executivo afirma que o coronavírus é, de longe, o maior desafio da sua carreira e explica como a empresa tem enfrentado a crise. “Não lembro de passar por outro momento em que o mundo tenha parado ao mesmo tempo sem ter uma perspectiva clara de saída”, diz Forster.

1) No cenário internacional, quais são as principais oportunidades para o investidor?

Se você tem um país que não consegue garantir estabilidade fiscal, esse é um lugar que vai ter juros mais altos, a economia vai para baixo e isso deixa a bolsa menos atrativa. Por isso, batemos na tecla de diversificação, inclusive na diversificação internacional.

Se as reformas começam a não acontecerem, a bolsa cai, os juros sobem e você perde nas duas pontas. Abrir os olhos para o exterior é essencial. Existem produtos internacionais acessíveis para o investidor em geral, como fundos BDRs e fundos que compram S&P500 no Brasil e estão disponíveis no varejo. A renda fixa e o crédito internacional também está disponível lá na fora e tem que estar no radar dos investidores. A melhor opção é ter uma carteira diversificada, porque o risco só aparece quando você perde. Antes de comprar ativos do exterior, recomendo que os investidores entendam qual vai ser o papel desses investimentos na carteira.

2) O investidor estrangeiro perdeu o interesse no Brasil?

Perdemos esse apelo para o investidor estrangeiro há algum tempo. O principal fator para isso é que faltava ao Brasil mostrar a capacidade de crescimento de economia para o estrangeiro voltar mais força. O grande risco que o estrangeiro enxerga é que a Selic caiu muito e não tem mais aquele poder atrator do juro alto. O segundo aspecto é que a a crise veio no meio do nosso processo de reformas, justamente no momento em que estavam esperando a reconstrução da nossa capacidade de crescimento.

3) Mas qual é a perspectiva?

Saímos de um regime de ajuste fiscal, corte de gastos, respeito ao teto de gastos, para ter que gastar dinheiro e piorar a situação no curto prazo. Isso levantou um sinal de alerta. O estrangeiro não tem pressa de voltar para o Brasil quando vê que outras economias, como a americana, por exemplo, têm uma chance maior de se recuperar em um prazo mais curto. Para esse cenário mudar vai depender de como a gente sai dessa crise.

4) E quais são os principais riscos para o País?

O grande problema é a situação fiscal se deteriorar e ter uma relação dívida/PIB que não se sustenta. Para não chegarmos nessa situação, o ambiente político tem que se acalmar e precisa e ter uma coordenação para avançar nas reformas. Vamos passar por um período de fisioterapia, de ajustes de contas e de lamber as feridas. Temos que fazer a lição de casa agora e nos prepararmos para o pós-pandemia. O maior risco é o de uma segunda onda de coronavírus. Esse não temos como controlar.

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