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O ministro da Saúde, Ricardo Barros, liberou meio bilhão de reais para os aliados do governo no penúltimo dia de 2017

Barros foi apontado pelo deputado Luis Miranda em depoimento à CPI da Covid. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, e sua equipe fizeram um serão no fim de 2017 para liberar quase
meio bilhão de reais em recursos a centenas de municípios no penúltimo dia do ano. A edição do Diário Oficial de sábado, dia 30 de dezembro, teve 74 páginas, todas elas com portarias da pasta. Foi editada ainda uma seção de uma página com alguns convênios liberando mais recursos e houve até uma edição extra para que três municípios do Paraná, estado do ministro, não ficassem fora. Barros fez  questão de registrar o trabalho extra em vídeo publicado em suas redes sociais dizendo que o dinheiro liberado era para honrar compromisso com “parceiros” do governo de Michel Temer.

“Hoje é dia 30 de dezembro. São mais de 17 horas. Acabou de rodar o Diário Oficial extra. Temos mais um diário oficial extra para empenhar e pagar todos os compromissos que assumimos aqui com nossos parceiros parlamentares, com nossos prefeitos, secretários de estado, que colaboraram com suas propostas para que as decisões do presidente Temer possam ser efetivadas”,  disse o ministro.

Ele continuou destacando que a pasta registrou em 2017 um recorde de empenhos, como são chamadas as promessas de pagamento. Disse esperar que neste ano o volume seja superado, “Desejamos a todos um feliz 2018 para que nós possamos no próximo ano repetir mais uma vez esse recorde de empenhos, de entregas de recursos e de mais saúde para todos os brasileiros”,  afirmou o ministro.

Cálculo feito pelo jornal O Globo nas dezenas de portarias publicadas mostra que as liberações foram de 436 milhões de reais no dia 30 de dezembro. Boa parte dos recursos liberados no apagar das luzes de 2017 foi para emendas parlamentares. O Ministério da Saúde é quem mais recebe emendas parlamentares, porque, quando o Congresso alterou a Constituição para tornar obrigatório o pagamento de recursos destinados por deputados e senadores, definiu-se que pelo menos a metade desses recursos teria de ser alocada na pasta.

Por isso, o esforço para a liberação de recursos no fim do ano tem também um componente político: agradar a base parlamentar de Temer. Entre os municípios beneficiados no saldão de fim de ano promovido pela pasta estão municípios de todos os tamanhos, grandes e pequenos. Para alguns, a liberação foi de milhares de reais; outros conseguiram ficar com dezenas de milhões.

A cidade do Rio, por exemplo, recebeu cerca de 50 milhões de reais. Deste montante, 32,2 milhões de reais vieram de emendas parlamentares com objetivo de aquisição de equipamentos e material permanente para estabelecimentos de saúde. O Diário Oficial não identifica que político apresentou cada emenda. A capital fluminense recebeu também recursos diretos do ministério. Somente em uma portaria foram mais 15 milhões de reais destinados a investimentos nas áreas de média e alta complexidade.

Para Santa Catarina, uma portaria apenas libera 10,3 milhões reais para a aquisição de equipamentos e materiais permanentes com base em emenda parlamentar. Nas mais de 70 páginas com atos da pasta há apenas uma portaria cancelando recursos. A cidade de Arapiraca (AL) foi a única a perder verbas na virada do ano. O município teve 161,3 mil reais suspensos, que deveriam ter sido aplicados no custeio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

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