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O ministro interino da Cultura ainda aguarda a sua saída do cargo, após ter pedido a demissão

Três semanas após pedir para deixar cargo, João Batista de Andrade não teve resposta do governo. (Foto: Reprodução)

Ministro interino da Cultura, o cineasta João Batista de Andrade, que há três semanas comunicou ao governo sua decisão de deixar o cargo, contou que até hoje não teve notícias sobre sua exoneração. Batista de Andrade diz que cobrou uma posição da Casa Civil há uma semana:

“Quando eu disse que ia sair, achava que seria coisa de alguns dias, no máximo uma semana…”, reconheceu. “Não tenho apego pelo cargo, mas há uma quantidade de coisas na minha mesa para decidir, e estou numa armadilha.”

Procurada, a Casa Civil disse que não houve um pedido de demissão, já que ele enviou, segundo a assessoria da pasta, uma carta em que se colocava à disposição para fazer a transição. Além disso, a Casa Civil afirmou que oficialmente o secretário executivo enviou a carta não para a Casa Civil, mas para o presidente da República.

Na carta, o ministro interino comunica a Temer o seu “desinteresse em ser efetivado” e diz que está “à disposição para contribuir da forma mais proativa possível com a transição”.

O cineasta, que era secretário executivo do ministério quando Roberto Freire (PPS) comandava a pasta, assumiu interinamente quando este deixou o governo, após a divulgação do áudio de Michel Temer com Joesley Batista. Andrade, no entanto, ainda não sabe quando vai sair.

“Se eu pudesse sair, sairia agora. Às vezes, me sinto em ‘O anjo exterminador’, de Luis Buñuel”, disse Batista de Andrade, referindo-se ao filme do realizador surrealista em que os frequentadores de uma festa não conseguem, por razões inexplicáveis, deixar a casa em que estão. “Falo que ‘agora acabou’, mas sei que preciso de paciência.

Na entrevista, dada ao crítico e repórter André Miranda, o ministro também detalhou o Programa de Fomento ao Audiovisual, lançado hoje pelo Ministério da Cultura (MinC). São cinco editais destinados a 135 projetos no valor total de R$ 8,6 milhões. Entre as áreas contempladas estão criação de aplicativos e verba para a produção de curtas-metragens dirigidos por mulheres.

Batista de Andrade também comentou o corte de 43% no orçamento do MinC, uma das justificativas de seu pedido de demissão. Ele lamentou a situação de alguns órgãos subordinados ao ministério, como a Biblioteca Nacional e a Cinemateca Brasileira, mas reafirmou que há verba para os investimentos necessários nas duas instituições. Há dois dias, Associação de Servidores do Ministério da Cultura divulgou uma carta em que reclama do descaso com a pasta.

Em sua carta de demissão, dirigida ao presidente Michel Temer, o cineasta disse que se recusava a “participar de um carrossel” de nomes que poderiam ocupar o cargo. Desde então, vários nomes já circularam como cotados à pasta. Batista de Andrade diz que tem “horror a política partidária” e quer se distanciar do debate sobre sua sucessão.

Filiado ao PPS, João Batista é escritor, roteirista e cineasta. Antes do ministério, foi nomeado secretário de Cultura do Estado de São Paulo em 2005 e, entre 2012 e 2016, exerceu a função de presidente da Fundação Memorial da América Latina (SP).

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