Cinquenta e dois candidatos trans e travestis concorrem a um cargo no Congresso nas eleições deste ano. O número é dez vezes maior do que em 2014, segundo levantamento feito pela Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), organização que reúne 127 instituições que promovem ações afirmativas ligadas à causa LGBTI em todo o Brasil.
O aumento vem na esteira de duas decisões do Judiciário — uma do STF (Supremo Tribunal Federal), outra do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) — que possibilitou a alteração para o nome social e identificação de gênero de eleitores e candidatos transexuais e travestis. Em março, o STF determinou também que os partidos devem destinar, no mínimo, 30% dos recursos do Fundo Partidário para o financiamento de campanhas femininas.
Por unanimidade, o TSE também decidiu que as cotas de candidatos são por gênero, não por sexo biológico. Na prática, isso significa que os trans devem ser considerados de acordo com os gêneros com que se identificam. Uma vitória para a população que representa essas pessoas.
Primeira mulher trans no vôlei profissional, Tifanny Pereira de Abreu, de 34 anos, jogadora do Sesi Bauru, é candidata à Câmara pelo MDB de São Paulo. No esporte, a atleta disputou em times masculinos antes de terminar a transição de gênero. Depois de decisões de entidades superiores da modalidade, passou a jogar em equipes femininas. Na urna, não terá problemas por causa da resolução do TSE.
“Hoje há uma facilidade maior para os LGBTs lutarem por direitos. Estamos um passo à frente no mercado de trabalho e na luta, depois de muitas morrerem por igualdade. A decisão que permite o nome social e a mudança de gênero nos cartórios é um exemplo. Com isso, não há mais problema. Pouco a pouco estão fazendo a mudança. Estamos aguardando a decisão do MDB sobre a divisão, mas focamos nas redes sociais, entrevistas, debates e encontros por causa da falta de recursos.”
Nestas eleições, o Brasil tem, pela primeira vez, uma candidata travesti ao Senado.
É Duda Salabert, 36, que concorre em Minas Gerais pelo PSOL. É professora e preside uma ONG que oferece apoio a travestis e transexuais em Belo Horizonte. Ela diz que a dificuldade de renovação no Congresso não é uma barreira apenas para os candidatos LGBTI.
“Nossa sociedade ainda é muito machista e lgbtfóbica, e isso se reflete na política e dentro dos partidos. A expectativa de vida de uma travesti não chega a 35 anos no Brasil. Existe preconceito na sociedade, dentro do meio LGBT e dentros dos partidos de esquerda e de direita. Os partidos são espelhos da sociedade”, afirma Duda.
A tendência de aumento de candidatos trans e travestis também se vê nos Estados Unidos, que têm eleições para o Legislativo em novembro deste ano. Lá, como aqui, a participação é recorde. Pelo menos 43 candidatos apresentaram-se na fase das primárias dos partidos para vagas nas esferas municipal, estadual e federal.