Em março do ano passado, a bióloga Daniella Braga, de 52 anos, fez a primeira cirurgia de sua vida, que causou uma mudança radical: seu peso passou dos 155 quilos para os 88 quilos. Ela está entre os brasileiros que fizeram cirurgia para reduzir o estômago, operação que teve aumento de 84,7% entre 2011 e 2018 no País, segundo novo estudo da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica).
Apesar do crescimento, o número de cirurgias é considerado baixo diante da quantidade de pessoas que poderiam ser submetidas à técnica não só para reverter o quadro de obesidade, mas para tratar problemas de saúde, como diabete tipo 2. No Brasil, 13,6 milhões de pessoas têm o perfil para se submeter ao procedimento.
“Observamos um número crescente nos últimos anos, que foi maior no início da década. É um procedimento jovem, tem pouco mais de 20 anos que é feito no Brasil, mas a cirurgia é cada vez mais conhecida e as pessoas veem os bons exemplos, uma esperança para resolver um problema sério, que causa transtornos no corpo e na mente dos pacientes”, explica Marcos Leão Vilas Boas, presidente da SBCBM.
Em 2011, o País contabilizou 34.629 cirurgias bariátricas, número que saltou para 63.969 no ano passado. Entre 2011 e 2018, 424.682 pessoas foram operadas. Embora tenha havido aumento de cirurgias, a quantidade é considerada baixa em relação à população que necessitaria do procedimento, segundo Ricardo Cohen, coordenador do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
“O Brasil opera 4 a 5% dos pacientes que precisam ser operados”, diz. A SBCBM estima que, no ano passado, 0,47% dos pacientes elegíveis foram operados. Os principais gargalos são a estigmatização do paciente, que é julgado pela sociedade ao realizar a cirurgia, as longas filas no Sistema Único de Saúde – que aumentam com a migração das pessoas que perderam o plano de saúde por causa do desemprego, além da necessidade de sensibilização dos profissionais de saúde para acolher esses pacientes e indicar o tratamento.
Quando recebeu a indicação para a cirurgia, Daniella estava com a mobilidade comprometida. “Fui ao médico ortopedista e ele falou que ou eu emagrecia ou andaria de cadeira de rodas. Saí com a decisão tomada”, conta a bióloga.
“Mudou tudo na minha vida. Não é uma decisão nem um processo fácil. É um reaprendizado de tudo: de ter respeito pelo seu estômago, reacostumar a se alimentar na velocidade adequada, quantidade que você pode comer, o que pode comer sem que se sinta mal”, conta.
Para manter o resultado, ela seguiu as orientações de ter alimentação saudável, levando lanches para comer nos horários adequados quando está no trabalho.
Quem pode fazer a cirurgia bariátrica
Em casos de obesidade mórbida, quando o IMC (Índice de Massa Corporal) está acima de 40 kg/m²;
Para pacientes com IMC entre 35 e 39,9 kg/m² e que têm doenças associadas à obesidade, como hipertensão, refluxo e apneia do sono;
O procedimento também é recomendado para pessoas com diabete tipo 2, que não é controlada com medicamentos. Chamada de cirurgia metabólica, pode ser feita em pacientes com IMC entre 30 e 34,9 kg/m².
O crescimento da cirurgia é associado a dois fatores principais, na visão de Vilas Boas. Além dos resultados positivos nos pacientes, o Brasil vive um quadro de aumento da população obesa.
Em julho, o Ministério da Saúde apresentou dados que apontam aumento de 67,8% no total de obesos entre 2006 e 2018. São mais atingidos os brasileiros entre 25 e 34 anos (alta de 84,2%) e 35 a 44 anos (avanço de 81,1%), conforme o levantamento da pasta.
“A doença está mais no entorno do que dentro da própria pessoa. Temos uma sociedade que consome alimentos industrializados, mais baratos e de fácil acesso, que chegam na casa de todo mundo com quantidades de açúcar e gordura muito elevados”, afirma o presidente da entidade.
O presidente da SBCMB fez a cirurgia em 2014. “Sou de uma família de pessoas com diabete. Era hipertenso e tinha muito refluxo. Desde então, nunca mais tomei remédio para refluxo, diabete, pressão e o fígado está zerado. Tenho vida normal. Acreditamos verdadeiramente na cirurgia, sabemos o valor que tem para nossos pacientes e nas nossas vidas, dos nossos familiares.”
