O número de crianças imigrantes desacompanhadas detidas ao longo da fronteira entre México e os Estados Unidos triplicou nas últimas duas semanas, para mais de 3.250, lotando instalações semelhantes a prisões enquanto o governo Joe Biden tenta encontrar lugar para elas em abrigos, segundo documentos obtidos pelo The New York Times.
Mais de 1.360 crianças ficaram detidas além das 72 horas permitidas por lei antes de serem transferidas para um abrigo, de acordo com um dos documentos, datado de 8 de março. Os números destacam a pressão crescente sobre o presidente americano para lidar com o aumento do número de pessoas tentando cruzar a fronteira, em parte movidas pela crença de que ele será mais acolhedor com elas do que o ex-presidente Donald Trump.
As crianças estão detidas em instalações geridas pelo serviço de Alfândega e Proteção de Fronteiras, construídas para adultos. A agência de fronteira tem sido alvo de críticas generalizadas pelas condições horríveis de seus centros de detenção federais, nos quais as crianças são expostas a doenças, fome e superlotação.
Segundo a lei, o governo federal dos Estados Unidos é obrigado a transferir crianças desacompanhadas, em um prazo de três dias, das instalações de fronteira para abrigos administrados pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos, onde são mantidas até que sejam colocadas sob a guarda de um patrocinador. Funcionários do Departamento de Segurança Interna — do qual o serviço de Proteção de Fronteiras faz parte — frequentemente apontam os atrasos do Departamento de Saúde e Serviços Humanos em buscar as crianças como uma razão para a detenção prolongada.
Até a última sexta-feira (5), quando o governo suspendeu as restrições, os abrigos administrados pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos estavam com capacidade reduzida por causa da pandemia. Segundo os documentos, em 13 dias os abrigos para crianças imigrantes devem atingir sua “capacidade máxima”. Os dados mostram a tensão no sistema projetado para manter as crianças imigrantes, enquanto Biden tenta cumprir uma promessa de campanha de ser mais compassivo com os imigrantes durante uma pandemia global.
Os agentes de fronteira encontraram imigrantes na fronteira 78 mil vezes em janeiro, o maior número naquele mês em pelo menos uma década. A maioria deles eram adultos ou famílias que foram rapidamente rejeitadas devido a uma regra de emergência de pandemia. O governo deve anunciar um aumento nessas travessias esta semana, de acordo com as autoridades.
As regras são diferentes para crianças desacompanhadas, que, ao invés de serem mandadas embora, são levadas sob custódia, obrigando o governo a encontrar espaço para elas. Mais de 5.800 crianças desacompanhadas foram apreendidas na fronteira em janeiro, um aumento de mais de mil casos em relação a outubro de 2020.
O governo Biden reabriu recentemente uma instalação de emergência usada durante o governo Trump em Carrizo Springs, Texas, para criar mais espaço para as crianças. Os abrigos onde as crianças migrantes deveriam ser mantidas estão sobrecarregados.
O Departamento de Saúde e Serviços Humanos tinha mais de 8.100 crianças desacompanhadas em seus abrigos até domingo (7), com vagas disponíveis para apenas 838 mais, de acordo com os documentos. Mais de 42% das cerca de 3.250 crianças sob custódia da Alfândega e Proteção de Fronteiras foram mantidas por mais tempo do que o máximo de três dias. Os agentes de fronteira ainda não encaminharam mais de 440 dos jovens imigrantes sob sua custódia para os abrigos de crianças imigrantes.
A Patrulha de Fronteira e os Serviços Humanos e de Saúde há muito lutam para transferir crianças imigrantes para abrigos com eficiência.
“É um processo de coordenação difícil”, disse Janet Napolitano, secretária de Segurança Interna do governo Obama.
Ela disse que o aumento de crianças desacompanhadas na fronteira representa um desafio urgente para o governo.
“É por isso que eles precisam de algumas instalações na fronteira”, disse ela. “E acho que o que eles precisam fazer é agir o mais rápido possível para colocar esses menores com um adulto verificado.”