O Brasil teve ao menos 5.804 pessoas mortas por policiais no ano passado – um dado maior que em 2018. No mesmo período, 159 policiais foram assassinados – número bem menor que o do ano anterior. É o que mostra um levantamento feito pelo G1 com base nos dados oficiais de 25 estados e do Distrito Federal. Apenas Goiás se recusa a passar os dados.
O número de vítimas em confronto com a polícia cresceu 1,5% em um ano. A alta vai na contramão da queda de mortes violentas no país, a maior da série histórica do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (19%).
Já o número de policiais mortos caiu 51% – foram 326 oficiais assassinados em 2018. É o terceiro ano seguido em que há um aumento de mortes por policiais e uma diminuição de policiais mortos.
Os dados, inéditos, compreendem todos os casos de “confrontos com civis ou lesões não naturais com intencionalidade” envolvendo policiais na ativa (em serviço e fora de serviço).
O levantamento faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
O novo levantamento revela que: O Brasil teve ao menos 5.804 pessoas mortas por policiais no ano passado – um aumento de 1,5% em relação ao ano anterior, quando foram registradas 5.716 vítimas (sem contar Goiás em ambos os anos); A taxa de mortes pela polícia ficou em 2,9 a cada 100 mil habitantes; O Amapá é o estado com a maior taxa de mortes por policiais: 15,1 a cada 100 mil; O país teve 159 policiais assassinados em 2019 (menos que em 2018, quando 326 oficiais foram mortos); Tocantins e Rio Grande do Norte são os que têm a maior taxa de policiais mortos do país: 1,3 a cada mil; O crescimento de mortes pela polícia em 2019, porém, é bem menor que o registrado em 2018, quando houve uma alta de 18%.
Mortos pela polícia
Das 5.804 mortes cometidas pela polícia em 2019 nos 25 estados e no DF, a maioria (cerca de 95%) aconteceu com policiais em serviço. Os 5% restantes são vítimas de policiais civis e militares na ativa, mas que não estavam trabalhando no momento.
O Rio de Janeiro é o estado que tem o maior número absoluto de pessoas mortas em confronto com a polícia (1.810 vítimas). Possui ainda a segunda maior taxa: 10,5 assassinatos a cada 100 mil habitantes. O dado representa mais de 30% do total de mortes pela polícia no país. E a taxa é a mais alta registrada no estado desde 1998, ano de início da série histórica.
Uma das mortes emblemáticas no ano foi a da menina Ágatha Félix, de 8 anos. Ela foi baleada no dia 20 de setembro dentro de uma Kombi quando voltava para casa com a mãe na comunidade da Fazendinha, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
A perícia concluiu que não houve confronto no momento do tiro e que a bala saiu do fuzil do policial militar Rodrigo José de Matos Soares. Ele responde na Justiça por homicídio qualificado. Caso condenado, poderá cumprir pena de 12 a 30 anos de prisão.
O desabafo do avô da menina, Aílton Félix, é lembrado até hoje. “Atirou na Kombi e matou a minha neta. Foi isso. Isso é confronto? A minha neta estava armada, por acaso, para poder levar um tiro?”
A Polícia Militar inicialmente afirmou que os PMs foram atacados por marginais e reagiram. As investigações da Polícia Civil, no entanto, concluíram que os policiais eram os únicos que dispararam tiros no local.
Outro caso de repercussão foi a morte do garçom Francisco Laércio de Paula Lima, de 26 anos, baleado na cabeça na comunidade Barreira do Vasco, em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio.
Ele trabalhava em um bar na Lapa, no Centro. Testemunhas contaram que Francisco voltava para casa com uma sacola nas mãos e um copo de café quando foi surpreendido por PMs que saíram de um beco atirando.
A Polícia Militar do Rio de Janeiro diz que lamenta a morte do garçom e que equipes faziam um patrulhamento na região. Os agentes envolvidos no caso acabaram presos por desobediência de ordem e descumprimento de missão. Um inquérito policial militar foi aberto.
Já o Amapá é o que tem a maior taxa de mortes por policiais: 15,1 a cada 100 mil habitantes. O governo do estado diz que o aumento de mortes por intervenção de agentes no estado ocorreu devido ao maior enfrentamento à ação policial.
O governo destaca a redução no número geral de homicídios e diz que a alta de letalidade se dá em razão do aumento de ações policiais contra as facções.
Policiais mortos
Já em relação aos policiais civis e militares da ativa que morreram no ano passado no país, a maior parte estava fora de serviço no momento da morte (cerca de 70% do total).
A queda de oficiais vitimados em relação a 2018 é substancial: mais de 50%.
Os estados com a maior taxa de policiais mortos são Rio Grande do Norte e Tocantins: 1,3 vítimas a cada mil oficiais.