O prédio da Superintendência da PF (Polícia Federal) em Curitiba (PR), onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está preso há uma semana, foi inaugurado em fevereiro de 2007. Nessa época, ele começava a governar o País pelo segundo mandato consecutivo de uma gestão exercida de 2003 a 2010, sob promessas de auxiliar o combate à lavagem de dinheiro – por ironia da história, esse seria um dos crimes que o levariam à prisão no âmbito da Operação Lava-Jato.
Embora o nome de Lula esteja gravado em uma placa no saguão do edifício, ele não participou do evento de inauguração daquela que seria a sua própria cadeia. Isso porque ele cumpria agenda política em Campinas (SP). Coube ao então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos (1935-2014), discursar em nome do chefe do governo federal.
Em sua fala na ocasião, o jurista ressaltou aspectos como a ajuda que o local daria à integração das polícias e ao combate à corrupção – outro ilícito que descambaria na condenação de Lula pelo juiz federal Sergio Moro, com a sentença ampliada pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), em segunda instância, para 12 anos e um mês de reclusão em regime fechado.
“Esse exemplo que o Paraná nos dá permite ações mais eficazes no combate à lavagem de dinheiro, às quadrilhas e ao crime financeiro”, afirmou Thomaz Bastos antes de “cortar a fita” de inauguração, de acordo com uma nota publicada na época pelo governo do Paraná.
Detalhes
Com uma área de 18 mil metros quadrados, o prédio custou R$ 25 milhões ao governo federal. As obras começaram em 2002. Há uma outra placa, pequena, que informa que a construção foi feita pela Schahim Engenharia, a mesma empresa acusada na Lava-Jato de ter pago propina à campanha do PT e cujos sócios fecharam acordo de delação premiada.
No dia do evento em Curitiba, Lula inaugurava uma estação de tratamento de água em Campinas. Não citou em seu discurso o que acontecia no Paraná. Um dia antes, ele havia elogiado medidas que aceleraram trâmites judiciais.
“Qualquer pessoa que já enfrentou um processo na Justiça sabe da demora e das dificuldades em ter seus direitos reconhecidos, suas pretensões atendidas e seu litígio solucionado. São muitos gargalos que transformam o processo, conforme diz o ministro Márcio Thomaz Bastos, em uma verdadeira corrida de obstáculos sem fim”, disse o ex-presidente.
Palocci
Diretor-geral da Polícia Federal à época, Paulo Lacerda relembra que o ex-presidente Lula autorizou a destinação de recursos para o programa de modernização da PF, apesar da resistência do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
Ainda conforme o delegado, a Superintendência da PF do Paraná havia funcionado até então em uma casa no Centro de Curitiba e que, por falta de espaço, vários órgãos tinham que funcionar em outros endereços: “Era um estado muito importante em termos operacionais em um espaço acanhado. Havia um plano de modernização, mas, sem dinheiro, não conseguiríamos implantar”.
“O Senado já tinha autorizado, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a obtenção de empréstimos junto a dois bancos estrangeiros, mas sua área econômica não havia avalizado o financiamento, que requer contrapartidas do Tesouro”, acrescenta.
No início do governo Lula, Lacerda e Thomaz Bastos pleitearam a implementação de programa. Mas, segundo Lacerda, Palocci resistia à ideia de empréstimo com bancos estrangeiros. Lacerda disse não lembrar se o chefe da Casa Civil da época, José Dirceu, também rejeitava a proposta. “Dirceu também já ficou detido em Curitiba.”
Ele conta que, após uma breve negociação, ele e Thomaz Bastos foram informados por Lula sobre sua decisão de autorizar o empréstimo: “Não foi só o empréstimo. O orçamento da PF foi muito melhorado. Comprou-se o que havia de melhor em equipamentos para os institutos de criminalística e de identificação.
Dentro do mesmo programa de modernização, construiu-se a delegacia de Foz do Iguaçu, a maior do País. “Essa também funcionava em uma casa”, finaliza.