O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), reconheceu que a relação entre seu partido e o PMDB é “ruim” e “ainda não foi resolvida por falta de oportunidade”, mas descartou a possibilidade de usar o cargo para prejudicar o presidente Michel Temer durante a tramitação da segunda denúncia oferecida contra ele pela Procuradoria-Geral da República, por obstrução da Justiça e organização criminosa. Segundo Maia, ele já provou que não tem o costume de misturar os assuntos.
“Esta semana, eu provei que não misturo os temas. Eu vocalizo a minha preocupação em relação ao PMDB, mas, se você olha a medida provisória que reestruturava o governo, se não fosse o DEM, e se não fosse a articulação que nós fizemos, a MP tinha caído”, afirmou.
Como presidente da Câmara, Maia tem nas mãos, pela segunda vez, a condução da votação no plenário da denúncia contra o presidente. Em virtude do cargo que ocupa, é também o sucessor de Temer se o plenário da Casa decidir por autorizar o Supremo Tribunal Federal a analisar a denúncia oferecida pela Procuradoria. Neste caso, Temer seria afastado por 180 dias e Maia assumiria a Presidência da República para convocar novas eleições.
Os atritos entre o DEM e o PMDB tiveram como pano de fundo a atuação de peemedebistas, entre eles o próprio presidente Michel Temer, para atrair para o partido deputados descontentes do PSB que estavam negociando a transferência para o DEM.
Na semana passada, Maia cobrou publicamente “mais respeito” dos peemedebistas e diretamente do presidente. Na ocasião, chegou a ameaçar o Palácio do Planalto com a retaliação de parlamentares do DEM em votações na Câmara de interesse do governo.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, Maia reclamou do que chamou de “boatos” de que ele teria agido para derrubar Temer durante a tramitação da primeira denúncia contra o presidente. Ao jornal, o deputado disse acreditar que esses “boatos” partiram do próprio entorno do presidente, e voltou a atacar. “Não fiz com eles o que eles fizeram com a Dilma”, afirmou. “Como eles fizeram com a Dilma, talvez imaginassem que o padrão fosse esse.”
Maia ressaltou que, se não fosse sua articulação para que o DEM permanecesse aliado ao governo durante a tramitação da primeira denúncia, Michel Temer teria sido afastado do cargo. “Vou dizer claramente, sem nenhuma vaidade: se eu tivesse deixado o DEM sair com o PSDB, o Michel tinha caído”, disse.
Divergências
O presidente da Câmara participou na sexta-feira de um encontro com representantes de universidades e institutos de pesquisa no Rio de Janeiro, que pedem ajuda à bancada fluminense para continuar operando.
No evento, Maia usou tom mais ameno ao comentar as divergências na relação entre DEM e PMDB. O parlamentar afirmou que esse tipo de problema é comum em todas as relações, mas declarou que as divergências entre os dois partidos não serão motivo para que o DEM mude de postura em relação às suas convicções. “Não vamos mudar de opinião porque A ou B, presidente do PMDB, ou qualquer outra pessoa tem trabalhado de forma hostil contra o DEM”, afirmou.
O Palácio do Planalto não comentou as declarações de Rodrigo Maia.
