Ícone do site Jornal O Sul

O presidente da Câmara dos Deputados disse que há um fantasma no Palácio do Planalto fazendo intrigas contra ele

Rodrigo Maia, ao lado de Temer, não estava com feições muito boas durante a reunião de trabalho sobre a segurança no Rio. (Foto: Alan Santos/PR)

Apesar de publicamente o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ter declarado todo o apoio à intervenção federal na segurança do Rio, há quem diga que, reservadamente, ele está irritado por não ter participado da decisão. Maia chegou a dizer que não existe nenhum “desconforto” por não ter sido consultado a respeito do decreto do presidente Michel Temer, indicando que qualquer coisa contrária, é boato.

“Tem um fantasma ali [no palácio do Planalto] que não gosta de mim, mas eu não sei quem é”, afirmou Maia, acrescentando que toda semana alguém cria “intrigas” envolvendo seu nome, mas que sua relação com Temer é boa.

Nos bastidores, corre a informação de que Maia foi voto vencido na discussão sobre a intervenção e que Temer decidiu passar por cima da posição do aliado, que é presidente da Câmara.

A ideia começou a ganhar forma na terça-feira de carnaval, quando o presidente Michel Temer viu, pela TV, imagens de bandidos aterrorizando as ruas cariocas durante a festa, que é vitrine do país para o mundo. Além disso, Temer recebeu de conselheiros descrições da grave situação da capital fluminense.

Um dos relatos foi feito pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Moreira Franco. Uma entrevista do governador Luiz Fernando Pezão, em que admitiu que a situação estava fora de controle, também impressionou e acelerou as movimentações. Temer somou a crise aguda dos dias de folia aos problemas crônicos da segurança do Rio e começou a gerar o plano de oferecer ajuda contundente ao governo fluminense.

Pezão vinha conversando com interlocutores do presidente para solicitar uma ação ampla da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e mais dinheiro federal para as forças do Estado. Pensando nisso, Pezão recebeu os ministros da Defesa, Raul Jungmann, e Moreira Franco no Palácio Guanabara para tratar da crise.

Acabou recebendo um convite para conversar pessoalmente com Temer em Brasília, o que aconteceu na noite de quinta-feira. Ao ser informado sobre o plano de intervenção, inicialmente Pezão resistiu, mas foi convencido de que não tinha alternativas para tirar o Estado do caos. Em pouco tempo, percebeu que poderia ser interessante dividir com o governo federal as responsabilidades na segurança pública.

“Nas coxas”

Já Rodrigo Maia, que se coloca como um representante dos interesses do Rio na esfera federal, desconfiou da medida. A interlocutores, conforme o jornal Valor Econômico, o presidente da Câmara se queixou de ter sido deixado de lado na tomada da decisão. Ele afirmou a pessoas próximas que o decreto foi feito “nas coxas”.

Em uma dessas conversas, lembrou que o comandante do Exército, general Villas Boas, manifestou, tempos atrás, ceticismo em relação à ideia de que o problema da violência seria resolvido pelas mãos dos militares.

Quando Rodrigo Maia chegou à reunião no Palácio do Planalto, na noite de quinta-feira, a decisão já estava sacramentada, e ele manifestou seu descontentamento. “Não vou ficar contra, mas também não vou opinar”, desabafou o presidente da Câmara.

Diante da reação, Temer chegou a dizer que iria suspender a intervenção. Nesse momento, Pezão fez um apelo: “Rodrigo, não dá mais, o Rio está em situação de calamidade na segurança pública, não temos saída e não podemos adiar nem mais um dia!”.

Proveito da situação

Sem muito o que fazer, restará a Maia tirar proveito da situação, sacando da manga a agenda de segurança com a qual vinha flertando desde o ano passado e que tem forte apelo com a população.

Antes mesmo de seguir para o Palácio do Planalto para participar da cerimônia de assinatura do decreto,Maia telefonou para Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), para retomar o anteprojeto de lei em que trabalham em conjunto para endurecer o combate ao tráfico de armas.

No café da manhã com jornalistas, Maia afirmou que a intervenção é um “salto triplo sem rede”, que não se pode errar. Em outro momento, disse que todos os governantes do Rio fracassaram no combate à violência.

Brincou que sua pauta para a Câmara fora “atropelada pela locomotiva”do governo com essa medida. Nos bastidores, ele e alguns aliados ponderaram com Temer o risco de levar o problema da violência fluminense para dentro do Palácio do Planalto, mas pesou a gravidade do tema e o fato de ser uma pauta popular.

 

Sair da versão mobile