O presidente da França, Emmanuel Macron, convidou representantes dos Estados brasileiros que compõem o Consórcio da Amazônia Legal a participar da reunião para discutir a região amazônica nesta segunda-feira (23), em Nova York (EUA), em um evento durante a Cúpula do Clima, da ONU (Organização das Nações Unidas). O encontro é organizado pelo francês, junto com os presidentes Iván Duque, da Colômbia, e Sebastian Piñera, do Chile, e não tem a participação oficial do Brasil. As informações são do jornal O Globo.
O governador do Amapá, Waldez Goés (PDT), disse que o consórcio da Amazônia Legal, presidido por ele, participa da reunião como ouvinte e confirmou que havia a expectativa de que os Estados amazônicos pudessem discursar, o que não se concretizou.
“Recebemos o convite da Embaixada Francesa, que organiza reunião junto com Chile e Colômbia. A Amazônia é debatida no Brasil e fora do Brasil, e achamos legítimo esse debate. Não tiramos o direito de ninguém dar a sua opinião, contribuir, participar. O que não é correto são os atores principais, que moram na região, que acabam sendo os principais responsabilizados pelos problemas, não participarem intensamente de todos esses fóruns. É necessário que agora passe a ser uma. Não há nenhum”, disse Waldez.
Goés criticou a ausência do governo federal nos debates. “Eu não aceito isso como normal, o Brasil, pela importância que tem para o mundo na questão ambiental, ficar de costas para este debate”, disse Waldez, reforçando que o país deveria estar presente ao menos para se contrapor às opiniões dos demais participantes.
Além dele, outros três governadores dos Estados amazônicos estavam na cidade americana para acompanhar a Cúpula do Clima e participar de discussões que acontecem em eventos simultâneos. Foram a Nova York os governadores Mauro Mendes (DEM), do Mato Grosso; Gladson Camelli (PP), do Acre; e Wilson Miranda (PSC), do Amazonas.
O presidente do consórcio tenta construir uma agenda paralela à participação oficial do Brasil e defende que os estados possam sejam ouvidos na discussão sobre o tema.
O grupo de governadores tem buscado reverter decisões do governo brasileiro que levaram à suspensão dos repasses ao Fundo Amazônia por parte da Noruega e Alemanha. O consórcio ainda trabalha com a hipótese de receber diretamente os recursos para investimentos em projetos na floresta.
“Somos uma autarquia, temos vida jurídica, podemos, sim, estabelecer com organismos nacionais ou internacionais essa relação. Deixamos isso muito claro para o governo federal e para embaixadas. Tanto para aquelas que representam os países doadores do Fundo Amazônia, quanto para a França. Os mais de 100 anos de relação de amizade e cooperação que o Brasil tem com a França estão acima de qualquer entrevero de chefe de Estado”, disse Waldez.
O presidente Jair Bolsonaro e Macron se envolveram em uma troca de farpas pública nas últimas semanas devido à política ambiental do governo brasileiro, da qual o líder francês é um crítico.
Em meio à crise provocada pelas queimadas na Amazônia, o presidente francês deixou “em aberto” o debate sobre a internacionalização jurídica da floresta. O brasileiro reagiu dizendo que se trata de uma ameaça à soberania do Brasil.
O governador do Amapá desembarcou no domingo em Nova York. “Estamos sendo 100% transparentes no nosso direito de dialogar com autoridades nacionais e internacionais, de ouvir os clamores e preocupações, mas também de colocar o que nós temos feito e qual é a nossa proposta de debelar as iniciativas indevidas na Amazônia e quais os investimentos precisam ser feitos, incluindo atividades de baixo carbono”, concluiu o governador.
Macron criticou a ausência do governo federal brasileiro na conferência. “Vamos falar francamente. Estamos discutindo tudo isso sem o Brasil presente. O Brasil é bem-vindo. Todos nós queremos trabalhar”, disse o francês, afirmando que busca “soluções políticas” para seguir adiante.