Em uma atitude que muitos consideram como inesperada, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aparentemente encorajou um grupo de senadores e deputados federais a aprovarem uma legislação mais rigorosa para o controle de armas no país. O objetivo é evitar – ou pelo menos coibir – novos tiroteios em massa.
Pressionado por uma onda de ativismo estudantil após o massacre que deixou 17 mortos em uma escola de ensino médio na Flórida há duas semanas, o chefe da Casa Branca e homem mais poderoso do mundo tem cautelosamente considerado a hipótese de mudanças nas atuais leis sobre o acesso e posse de armas pelos norte-americanos.
Nesta semana, durante uma reunião para discutir o assunto na Casa Branca, o líder republicano tratou da necessidade de uma medida rápida para impedir que novas tragédias como a de Parkland ocorram: “Nós temos que parar com essa tolice. Já está na hora.”
Trump falou de forma favorável, por exemplo, sobre a expansão da verificação dos antecedentes criminais de quem deseja comprar armas e o aumento da idade mínima para a compra de rifles, que passaria de 18 para 21 anos. O presidente disse que estaria disposto a aprovar tais mudanças, mesmo que sejam desaprovadas pela Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês).
“Nós vamos encontrar algumas ideias”, afirmou o polêmico magnata. “Espero que possamos colocar essas ideias em um projeto de lei bipartidário. Seria tão lindo ter um projeto de lei que todos possam apoiar.”
A NRA exerce forte pressão na política nacional norte-americana e investiu mais de US$ 30 milhões na campanha que elegeu Trump para a Casa Branca em 2016, segundo dados dos registros públicos de financiamento. A entidade é famosa por realizar intensa atividade de lobby junto ao Congresso Nacional e ao próprio presidente, dificultando a adoção de medidas que restrinjam o acesso a armas.
Trump sempre defendeu a manutenção das leis de porte de arma e, ao longo de sua campanha, mostrou-se contrário a qualquer enrijecimento. Nos últimos dias, contudo, tem mostrado uma postura diferente, correndo o risco de desagradar sua base eleitoral de republicanos mais tradicionais – algo que pode ter reflexos nas eleições legislativas de novembro, em que o controle de seu Partido sob o Congresso estará em jogo.
A reunião desta quarta na Casa Branca faz parte de um esforço para conciliar as visões democratas e republicanas sobre a posse de armas. Dezesseis senadores e deputados dos dois partidos foram convidados para discutir soluções para os tiroteios em massa nos Estados Unidos.
Mobilização
Além de pais, alunos e entidades que lutam pelo maior controle de armas, algumas campanhas institucionais aumentaram a pressão sobre Trump para que algum tipo de mudança na legislação sobre o assunto seja votada. Uma das iniciativas veio de empresas que decidiram boicotar a Associação Nacional do Rifle e retirar financiamentos da entidade.
Companhias como a Delta Air Lines, United Airlines, Hotéis Best Western, Hertz e Avis já anunciaram o fim das parcerias com a NRA a partir deste ano, medida que inclui adesão a postagens, nas redes sociais, contra o livre acesso às armas. No mesmo caminho estão outras grandes empresas de serviços que, mediante parceria, ofereciam descontos para membros da associação.