O presidente Michel Temer teve um encontro reservado, no início de outubro, em São Paulo, com João Roberto Marinho, vice-presidente do Grupo Globo, para discutir a cobertura do seu governo pelos veículos da empresa, além de pedir apoio para a reforma da Previdência. Segundo relatos feitos pelo próprio Temer a três aliados, a reunião foi um pedido de João Roberto. As informações foram divulgadas pelo jornal Folha de S.Paulo.
O presidente reclamou, segundo as fontes, da cobertura do caso JBS pelos veículos do grupo, que tinha, segundo o político, o objetivo de derrubá-lo. Procurada, a empresa declarou, via assessoria, que a conversa foi “absolutamente republicana, sem pedidos ou promessas de qualquer das partes”. A assessoria de Temer não comentou o caso.
Em 4 de outubro, João Roberto promoveu um jantar na casa de seu irmão Roberto Irineu Marinho para receber Temer e o vice-presidente de Relações Institucionais da Globo, Paulo Tonet. Um dos principais aliados do presidente, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) costurou o encontro.
Na avaliação do presidente, o comportamento do grupo desde 17 de maio, quando o jornal O Globo divulgou a conversa entre ele e o empresário Joesley Batista, cristalizou a percepção de que o peemedebista deu aval à compra de silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A gravação foi usada como base pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para apresentar duas denúncias Temer, barradas na Câmara dos Deputados. Uma das reclamações centrais de Temer foi o editorial de O Globo em 19 de maio. Intitulado “A renúncia do presidente”, defendia a saída de Temer do cargo como a melhor opção para o País.
O argumento do presidente é de que o editorial foi veiculado depois que a divulgação da íntegra dos áudios revelou, na avaliação de Temer, que não houve aval para a compra do silêncio de Cunha. Temer fez questão de dizer a Marinho que o conteúdo de delações nem sempre é conclusivo e citou informações acerca do acordo de colaboração do empresário J. Hawilla, da agência Traffic, com a Justiça dos Estados Unidos. A delação abriu a caixa preta de um esquema de corrupção na Fifa.
Em novembro, o empresário Alejandro Buzarco, ex-homem forte da companhia de marketing argentina Torneos y Competencias, afirmou às autoridades americanas que a TV Globo e outros grupos pagaram propina para transmissão de campeonatos. Em nota, o Grupo Globo disse “veementemente” que “não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina”.
O Grupo Globo passa a ter pela primeira vez, neste mês, um presidente-executivo que não é da família Marinho, controladora da empresa. O vice-presidente Jorge Nóbrega assumiu, no dia 14 de dezembro, o cargo que era ocupado por Roberto Irineu Marinho. “Concluí que eu, ao completar 70 anos, deveria me concentrar nas atribuições de presidente do conselho de administração”, disse, em nota, Irineu Marinho.
