O inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) que apura se o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir na PF (Polícia Federal) ganhou novos capítulos nos últimos dias, após o empresário Paulo Marinho ter dito que houve vazamento de uma investigação da PF ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Marinho, que foi um dos mais próximos apoiadores de Bolsonaro na campanha de 2018 e se elegeu suplente na chapa de Flávio para o Senado, afirmou que o filho do presidente foi avisado com antecedência por um delegado da PF sobre a deflagração da Operação Furna da Onça.
Entenda os principais pontos desse caso:
Paulo Marinho
O empresário Paulo Marinho disse que Flávio Bolsonaro soube com antecedência que a Operação Furna da Onça, que atingiu Queiroz, seria deflagrada. Segundo o relato, Flávio foi avisado da existência dela entre o primeiro e o segundo turnos das eleições, por um delegado que era simpatizante da candidatura de Jair Bolsonaro.
O delegado-informante (cuja identidade ainda não veio a público) teria ainda aconselhado Flávio a demitir Queiroz e a filha dele, que trabalhava no gabinete do então deputado federal de Jair Bolsonaro em Brasília, e teria dito que a operação, então sigilosa, seria “segurada” para não prejudicar a candidatura de Bolsonaro à Presidência da República.
Marinho foi um dos principais apoiadores da campanha presidencial de Bolsonaro e cedeu sua casa no Rio de Janeiro para a campanha. Também foi eleito suplente na chapa de Flávio para o Senado.
Caso Queiroz
Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro e amigo de Jair Bolsonaro, passou a ser investigado em 2018 depois que o Coaf identificou diversas transações suspeitas em sua movimentação bancária.
Segundo o órgão, Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, valor que seria incompatível com seu patrimônio e ocupação, e recebeu transferências em sua conta de sete servidores que passaram pelo gabinete de Flávio.
A suspeita é de que Queiroz seria operador de um esquema de “rachadinha” no gabinete de Flávio na Assembleia.
Para os investigadores, Flávio é chefe de uma organização criminosa que atuou em seu gabinete na Alerj entre 2007 e 2018, e parte dos recursos movimentados no esquema foi lavada em uma franquia de loja de chocolates da qual ele é sócio.
Moro
Ao deixar o governo, o ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro acusou o presidente Bolsonaro de tentar interferir na PF.
Depois disso, o procurador-geral da República, Augusto Aras, fez pedido de abertura de inquérito e o ministro Celso de Mello, do STF, autorizou o início do processo para investigar se Bolsonaro de fato tentou interferir na corporação para ter acesso a investigações em curso.
No dia 2 de maio, Moro prestou depoimento por mais de oito horas na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Ele disse que Bolsonaro pediu a ele, no começo de março deste ano, a troca do chefe da PF no Rio de Janeiro.
Moro disse que recebeu, pelo WhatsApp, a seguinte mensagem de Bolsonaro: “Moro, você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”.
Reunião ministerial
Considerado peça-chave no caso, o vídeo da reunião ministerial realizada em 22 de abril ainda não veio a público. Na ocasião, Bolsonaro teria tratado de mudanças na PF, segundo Moro.
O ministro Celso de Mello ainda precisa decidir se vai autorizar a divulgação da íntegra do vídeo. Por enquanto, vieram a público apenas dois trechos da reunião transcritos pela Advocacia-Geral da União (AGU).
Na primeira fala, Bolsonaro afirma: “Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô. eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações: a Abin tem os seus problemas, tem algumas informações, só não tem mais porque tá faltando realmente… temos problemas… aparelhamento, etc. A gente não pode viver sem informação.”
E complementa: “E não estamos tendo. E me desculpe o serviço de informação nosso — todos — é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade”.
Cinquenta minutos depois, segundo a AGU, Bolsonaro fez uma segunda declaração.
“Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f… minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”, afirmou o presidente.
