No dia 14 de novembro, a COP30 entrou em seu quinto dia com uma agenda intensa na BlueZone, onde negociadores e representantes de governos avançaram em compromissos multilaterais voltados à transição energética e ao fortalecimento das cadeias globais de combustíveis sustentáveis. Um dos marcos foi a assinatura do Compromisso de Belém por 23 países, com o objetivo de quadruplicar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis até o fim da década. A iniciativa sinaliza uma convergência política inédita em torno da descarbonização dos transportes e da indústria.
Outro anúncio relevante foi a publicação da Belem Declaration on Global Green Industrialization, que reforça a urgência de acelerar a industrialização verde global, especialmente nos países em desenvolvimento. A declaração propõe sinergias entre inovação tecnológica, financiamento climático e inclusão social.
Entre os avanços técnicos, destaca-se o rascunho do Programa de Transição Justa, que inclui garantias de direitos como o FPIC (Free, Prior and Informed Consent), princípio que assegura aos povos indígenas o direito de serem consultados previamente e de forma informada sobre projetos que afetem seus territórios. O tratado também reforça salvaguardas sociais e ambientais, alinhando-se aos princípios da justiça climática.
Os NAPs (National Adaptation Plans) também registraram progresso. Esses planos nacionais de adaptação são estratégias que visam reduzir a vulnerabilidade climática e integrar ações adaptativas às políticas públicas. As partes estão engajadas em limpar e finalizar o texto, com expectativa de adoção até o encerramento da conferência.
No campo da adaptação, a iniciativa FINI (Framework for National Implementation) ganhou destaque. Trata-se de um programa que busca fortalecer o planejamento e a implementação de ações adaptativas nos países mais vulneráveis. Apesar dos avanços, o financiamento para adaptação continua insuficiente, e o FINI tenta reverter esse cenário crítico por meio de cooperação técnica e mobilização de recursos.
Por outro lado, os impasses também marcaram o dia. O GST II (Global Stocktake), processo de avaliação coletiva dos avanços climáticos, segue travado. As partes não chegaram a um consenso sobre o cronograma alinhado ao IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), órgão da ONU que fornece avaliações científicas sobre o clima. A decisão foi adiada para a próxima semana.
O debate sobre o GGA (Global Goal on Adaptation) também enfrenta dificuldades. A meta global de adaptação, prevista no Acordo de Paris, busca fortalecer a resiliência e reduzir vulnerabilidades, mas os países ainda não acordaram indicadores claros para medir seu progresso.
O ponto mais controverso foi a inclusão de “combustíveis de transição” no JTWP (Just Transition Work Programme), programa criado para garantir que a transição para uma economia de baixo carbono seja justa e inclusiva. A expressão abre margem para interpretações ambíguas, podendo favorecer combustíveis fósseis sob o pretexto de transição.
O roadmap de florestas, que deveria consolidar metas para acabar com o desmatamento até 2030, ficou para a próxima semana. A expectativa é que o plano traga diretrizes claras para conservação, financiamento e valorização dos serviços ecossistêmicos.
Enquanto isso, na GreenZone, o ambiente é vibrante. A diversidade de povos, com suas indumentárias e expressões culturais, transforma Belém em um mosaico de vozes que nos faz refletir: as diferenças podem nos dividir, mas também são pontes para a união. A COP30 propõe justamente isso — um mutirão global pela ação climática.
Recebo diariamente relatórios sobre o impacto da COP30 nas redes sociais. Com o uso de inteligência artificial, a entidade observadora Democracia em Xeque classifica as notícias e ajuda a organizar informações confiáveis, permitindo que esta coluna se mantenha ampla e imparcial.
Já me adaptei à logística do Parque da Cidade, sede do evento. Os primeiros dias foram caóticos, com longas filas e trânsito intenso nas imediações da GreenZone. Adotei uma estratégia de saída que tem facilitado meu retorno para casa.
Para o fim de semana, Belém se prepara para uma programação especial: os eventos paralelos da COP30. A Cúpula dos Povos, por exemplo, reúne milhares de representantes da sociedade civil, indígenas, quilombolas e ribeirinhos em debates sobre justiça climática e saberes ancestrais. Além disso, as Casas Temáticas espalhadas pela cidade promovem painéis, exposições e encontros que conectam ciência, cultura e ativismo climático.
A COP30 é mais que uma conferência — é um chamado à ação coletiva. Que os próximos dias tragam mais convergência e menos ambiguidade. Afinal, o tempo da diplomacia climática é agora.
* Renato Zimmermann, desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética
