Nos últimos quatro anos e meio, o planeta acompanhou cada etapa da saída da União Europeia pelo Reino Unido. Na sexta-feira (1), o Brexit finalmente passou a ter efeito prático na vida de milhões de pessoas, inclusive de brasileiros que vivem lá.
É uma ressaca de Ano Novo diferente por aqui. A partir desta sexta, os britânicos não têm mais liberdade para morar, trabalhar ou estudar nos 27 países da União Europeia sem visto. Até quando viajarem como turistas, vão ter um limite de tempo pra ficar – o mesmo, claro, vale para os europeus que forem para o país.
Outra mudança prática: antes, o britânico que viajava pela União Europeia não pagava tarifa internacional de celular. Agora, as operadoras que quiserem podem cobrar a taxa.
Quer ver outra mudança que vai influenciar a vida de muita gente? Agora, para viajar com animal de estimação para países da União Europeia, quem mora no Reino Unido vai ter que pedir um certificado.
No Eurotúnel, que liga o Reino Unido à França, tudo normal nesta sexta. O diretor de operações disse que o primeiro caminhão do dia passou pelas novas checagens na fronteira tão depressa quanto o caminhão anterior, que obedeceu às regras antigas, quando não tinha burocracia nenhuma.
O Reino Unido saiu da União Europeia no dia 31 de janeiro do ano passado, mas começou um período de transição. Durante 2020, as regras do bloco continuaram valendo para os britânicos enquanto os dois lados negociavam a futura relação.
Nesta sexta, sim, a Grã-Bretanha se separou de vez do bloco depois de 47 anos – e, mais do que nunca, se percebe como uma ilha. Pelo acordo, a Irlanda do Norte, que faz parte do Reino Unido, se manteve alinhada à União Europeia – nada muda na fronteira com a República da Irlanda, que faz parte do bloco.
O novo acordo prevê ainda a compra e venda de produtos sem impostos. Os preços de itens importados não deve aumentar muito nas prateleiras. Em 2019, a brasileira Maristela estudou à beça para tirar o passaporte britânico. O visto dela era ligado à cidadania italiana do marido; o Brexit era uma ameaça. Na terceira tentativa, Maristela passou na prova. A foto com a rainha selou a nova fase: a manicure de Ubiratã, no Paraná, virava cidadã britânica.
“Eu acredito que a Inglaterra tem uma boa base, acho que ela vai conseguir entrar nesse novo período de uma forma forte, de uma forma segura. Eu espero que seja assim”, diz ela.
Bens e serviços
Neste aspecto, ter chegado a um acordo salvou muita gente de um aumento considerável nos preços de vários produtos que o Reino Unido importa da União Europeia e vice-versa. O fato é que ambas as partes concordaram em não impor tarifas ou custos adicionais ao fluxo de mercadorias, o que, a princípio, beneficia tanto exportadores e importadores de ambos os lados do Canal da Mancha. Porém, serão necessários novos controles de fronteira e trâmites burocráticos que antes não existiam, o que pode levar a atrasos e interrupções nas cadeias de abastecimento. Esses controles, no entanto, não serão impostos na Irlanda do Norte.
Isso porque o país compartilha de fronteira terrestre com a República da Irlanda, membro da União Europeia, e permanecerá efetivamente dentro do mercado comum europeu. Por outro lado, os prestadores de serviço britânicos terão que se adaptar às regras de cada Estado-membro do bloco ou se transferir para a União Europeia se quiserem continuar operando como hoje. Outro aspecto que europeus e britânicos devem ficar atentos é em relação à possível mudança nas tarifas de roaming para celular.
Antes, um britânico ou europeu podia usufruir da mesma tarifa contratada no seu país de origem em qualquer Estado-membro da União Europeia. O Reino Unido e o bloco europeu disseram que vão cooperar em “tarifas justas e transparentes para roaming internacional”, mas nada impede que viajantes britânicos e europeus sejam cobrados por usar seus telefones em um território ou no outro. Seja como for, as empresas prestadoras do serviço ficarão encarregadas de manter as mesmas condições ou então fixar novas tarifas.